Título: Exames vinculam aftosa em MS e no PR
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2006, Agronegócios, p. B10

Crise Sanitária Diante das evidências, missão da UE fica insatisfeita com as explicações prestadas pelo país

O Ministério da Agricultura não tem mais dúvidas sobre a vinculação entre os resultados positivos para a febre aftosa em parte das 2.205 amostras de sangue bovino colhidas em dez fazendas do Paraná com os focos da doença em Mato Grosso do Sul, confirmados em outubro passado. "É possível dizer que há uma nítida vinculação entre a origem e os novos exames", disse ao Valor Jorge Caetano, diretor de Saúde Animal do ministério. Segundo ele, os resultados deram 12% de positividade para a aftosa em animais com idade entre 12 e 24 meses, faixa etária fundamental para determinar a ocorrência da doença. "Normalmente o índice fica em torno de 1%". Ele descartou a possibilidade de os resultados positivos terem sido uma reação à vacinação, ocorrida em novembro de 2005. Diante das evidências, a missão veterinária da União Européia que veio ao país auditar frigoríficos, laboratórios e o sistema de rastreamento bovino (Sisbov) saiu insatisfeita com respostas e explicações dos governos federal e do Paraná sobre os novos exames. Com seu mercado fechado para as carnes brasileiras desde outubro, os europeus reclamaram da lentidão dos governos em esclarecer o único foco até agora confirmado no Paraná, diagnosticado na fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira. "Eles criticaram a demora até a notificação oficial, mas compreenderam as razões apresentadas", afirmou Jamil Gomes de Souza, coordenador de Combate a Doenças do ministério. O governo do Paraná anunciou a suspeita da doença em 21 de outubro, mas o ministério só confirmou o caso em 6 de dezembro. Foram exatos 47 dias de desencontros e disputas políticas entre os governos estadual e federal. "Eles acompanharam tudo pelos jornais, sabem todos os detalhes do que ocorreu aqui", disse Souza. Em outubro, após a confirmados primeiros focos em Eldorado (MS), a UE suspendeu as compras de carne bovina de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná. Principal mercado para o produto nacional, a Europa compra cerca de 37% das exportações brasileiras de carne. Nos bastidores, o ministério tentou emplacar a tese de que fez tudo o que podia, mas as brigas políticas e, mais recentemente, a liminar judicial obtida pelo dono da fazenda de São Sebastião da Amoreira, impediram a resolução do caso em tempo satisfatório. Na visita, os europeus também mostraram preocupação com o "frouxo" controle sanitário das fronteiras brasileiras, sobretudo com Paraguai e Bolívia. A missão também pediu mais informações sobre o novo modelo do Sisbov, reformulado na semana passada. O lado positivo da visita foi a validação do plano de trabalho apresentado pelo Brasil para adequar controles, gerenciamento e fiscalização federal nos frigoríficos exportadores. O próximo passo para convencer a UE a reabrir seu mercado às carnes do país será o envio, em 20 dias úteis, do relatório oficial da auditoria com as falhas do país e exigências do bloco. Depois o Brasil responderá às questões e enviará uma missão à Bruxelas para iniciar a retomada das vendas.