Título: Atividade definirá apostas a Copom
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2006, Finanças, p. C2

As próximas decisões de política monetária do Banco Central dependerão mais dos dados sobre produção industrial do que dos relativos à inflação. Por isso, os analistas acreditam que a divulgação, amanhã, pelo IBGE do informe sobre atividade da indústria em dezembro irá superar em importância o anúncio do IPCA fechado de janeiro, a ser feito na quinta-feira pelo mesmo Instituto. Isso porque há pouca divergência em relação ao índice oficial de inflação. Certamente, ele acusará o repique decorrente dos reajustes do álcool e dos alimentos. Deve situar-se entre 0,50% e 0,60%, mas se trata, como o próprio Copom já consignou em ata, de avanço pontual, sem maiores conseqüências. Já a produção industrial é cercada de grande ansiedade. Ela pode de fato definir se o Copom, em sua reunião de 8 de março, irá manter o ritmo de corte da Selic em 0,75 ponto ou se será prudente ampliá-lo para um ponto. O prognóstico dos analistas oscila entre 1,5% e 2% de crescimento da indústria em dezembro comparativamente a novembro, já descontados os efeitos sazonais. Comparativamente ao dado anterior - o frustrante avanço de 0,6% registrado em novembro -, trata-se de evolução considerável, capaz de superar o mal-estar geral decorrente da sensação de que o país está estagnado. Mas se o dado vier muito perto de 1% ou abaixo dele, retornarão todas as críticas ao excesso de conservadorismo do BC. Um informe decepcionante obrigará os bancos a recalcularem as estimativas de crescimento do PIB no ano passado. Uma revisão que conduza à conclusão de que a economia brasileira não conseguiu crescer nem 2% em 2005 irá desencadear mais uma bateria de fogo amigo. Mas se a projeção média de 1,8% para a expansão da indústria for confirmada, produzirá um alívio propício à continuidade do declínio lento e gradual da Selic. Para um ano em que o Copom se encontra apenas oito vezes, essa lentidão se traduz em um compasso de 0,75 ponto por reunião. O mercado futuro de juros da BM&F operou na semana passada confiante de que não surgirão surpresas desagradáveis. As taxas implícitas nos contratos sofreram pequenas mas contínuas quedas ao longo da semana. O contrato para a virada do trimestre abriu a semana a 16,96% e fechou a 16,89%. O CDI para a virada do ano recuou, no mesmo período, de 15,91% para 15,76%.

Produção industrial no foco central da semana

A principal vantagem da extensão para o mercado de renda fixa da isenção tributária que hoje já goza o capital estrangeiro aplicado na Bovespa é a libertação do BC de suas atuais amarras fiscais. Embora o BC não tenha se importado muito, no ano passado, com os sucedâneos fiscais de sua política de aperto monetário, a possibilidade de o investidor externo ampliar a demanda por títulos públicos prefixados irá facilitar a tarefa do Copom. Em caso de necessidade ditada por pressões inflacionárias, poderá golpear a Selic sem se importar com o impacto fiscal. "A abertura promoverá a mudança no perfil da dívida pública. Os papéis pós-fixados, que hoje são a maior parte dela, poderão ser trocados mais tranqüilamente por outros prefixados, de prazo mais longo, se os estrangeiros passarem a competir diretamente com os bancos nacionais", diz o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. O BC não precisará aumentar o juro se o objetivo for o de evitar fuga de capital externo, pois este já estará aqui aplicado a prazos mais longos. A renúncia fiscal irá amplificar a já expressiva oferta de dólares no mercado cambial. Mas este efeito não é indesejado do ponto de vista do BC. O economista-chefe do Banco Pátria, Luis Fernando Lopes, acredita que a isenção tributária aos estrangeiros irá despertar muita polêmica. Será um processo bem mais doloroso do que o ocorrido há dez anos quando da abertura da Bolsa via Anexo IV.