Título: Loucas por futebol
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 16/05/2010, Mundo, p. 21

O técnico brasileiro René Simões morou entre 2005 e 2007 em Teerã, treinando a seleção nacional de futebol. O Irã tem a melhor técnica da Ásia, disse Simões ao Correio, por telefone. Tem também a melhor torcida: Eles são alucinados por futebol, os estádios estão sempre cheios. Uma paixão que se transformou em protesto político (1)na Copa de 1998. E uma curiosidade: René diz que as iranianas treinam tanto quanto os homens. Somos todos loucos por futebol. Os estádios ficam cheios para assistir à seleção ou aos times locais, conta à reportagem, por telefone, a estudante de tradução Myriam Hussein, 24 anos, que costumava praticar o esporte em um clube perto de sua casa, na capital. Não é à toa que o time feminino disputará as Olimpíadas da Juventude, em agosto, em Cingapura. Na semana passada, as jovens jogadoras receberam uma boa notícia: a Fifa e o comitê nacional de futebol concordaram que, apesar de não serem autorizadas a jogar de véu, elas poderão cobrir os cabelos com bonés. Foi a maneira de adaptar a decisão da Fifa, de deixar o véu islâmico fora do gramado, em nome da segurança das jogadoras e de não misturar esporte com religião. Nós estamos muito contentes, disse o chefe da Federação Iraniana de Futebol, Farideh Shojaei, para quem a decisão aumentou a inspiração das adolescentes. Elas estão determinadas a treinar mais e mais, garantiu. No Irã, as moças podem ser treinadas por iranianos ou estrangeiros de ambos os sexos. No entanto, Myriam admite que, nos últimos anos, a maioria das meninas tem sido treinada por mulheres. E o jogo delas só pode ser assistido nos estádios por mulheres, acrescenta. René Simões pondera que, apesar da excelência técnica, o Irã ainda precisa aperfeiçoar a organização do futebol. Ele conta que muitas vezes a saída do país pode ser dificultada: Ou os jovens estão na escola, ou no exército, e nem sempre são liberados para jogar no exterior. O técnico brasileiro chegou a ter apenas cinco jogadores titulares, em uma ocasião. Outra barreira que René teve de vencer foi a do idioma. Pouca gente falava inglês e o jeito foi entrar para um curso de farsi. Foi o único lugar onde também trabalhei como intérprete, conta, em tom divertido. Apesar de considerar que um ano e meio foi pouco tempo para conhecer o país a fundo, René destaca que sua experiência foi muito positiva, mesmo com os limites impostos pela guarda religiosa. É um povo extremamente familiar, trabalhador, fazem festas ótimas E tem mais: nunca vi um assalto sequer e nunca soube de homem-bomba iraniano, destaca. René até arrisca um palpite sobre a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua política de ampliar a cooperação bilateral. Acho ótimo ver o Brasil como jogador ativo nesse tabuleiro internacional, fortalecendo a economia e seu papel político.