Título: A difícil tarefa de ser jovem
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 16/05/2010, Mundo, p. 21

Regime dos aiatolás veta liberdade sexual, reprime festas e impõe código de vestimentas. Adolescentes buscam formas de driblar o rigor

Garotas só querem se divertir, afirma o refrão de uma música da cantora pop norte-americana Cyndi Lauper. A letra também vale para as jovens iranianas, que não raras vezes driblam o regime islâmico dos aiatolás para ir a festas, mostrar uma mecha do cabelo ou exibir a silhueta, como fazem as mulheres ocidentais. Na semana passada, a polícia de Teerã prendeu 80 jovens em um concerto considerado ilegal pelas autoridades. O chefe de polícia, Abbas Jafari Dolatabadi, disse aos jornalistas iranianos que os detidos estavam praticando atividades que buscavam o prazer. Segundo ele, bebidas alcoólicas proibidas na república islâmica também foram apreendidas. Dolatabadi também relatou que, ao chegar ao local do festival, encontrou dezenas de jovens de ambos os sexos vestidos de forma inapropriada. Os rapazes não podem mostrar as pernas em público e as moças devem usar o hijab vestimentas que só deixam à mostra o rosto, as mãos e os pés. Além disso, a legislação do país proíbe homens e mulheres de dançarem em público; de frequentarem aulas de dança; ou de se tocarem, se não forem casados ou parentes muito próximos. O britânico Idris Tawfiq, ex-padre católico e hoje especialista em islã, explica que os muçulmanos não precisam copiar ou fazer comparações ao jeito que os não muçulmanos celebram suas festas. Nós não precisamos de álcool ou coisas pecaminosas (haram) para nos divertir. A beleza do islã está em sermos muito felizes e nos divertimos somente com as coisas que Alá permitiu, afirma Tawfiq. Festas mistas com garotas e garotos não são permitidas, mas às vezes elas são feitas às escondidas, em casa, por exemplo, conta ao Correio, pela internet, um iraniano que pediu para ser identificado apenas pelas iniciais A.M.. Ele reconhece que os jovens namoram escondidos, porque o regime islâmico não permite qualquer tipo de liberdade sexual antes do casamento nem mesmo dar as mãos. Se a polícia entende que um rapaz e uma moça estão sentados juntos num parque, por exemplo, os pobrezinhos podem ter alguns problemas, diz. Ele acrescenta que, no melhor dos casos, os jovens podem ser levados a uma delegacia, onde os policiais chamarão os pais de ambos para avisar que seus filhos andam se encontrando fora de casa.

Reforma educacional Desde 1979, o Irã aplica uma legislação baseada na interpretação da sharia (lei islâmica). A repressão a festas ilegais tem aumentado e os aiatolás também estão preocupados com a flexibilização do uso do hijab. Na oração da última sexta-feira, o clérigo Kazem Sedighi atribuiu às vestimentas pouco modestas a causa de terremotos e desastres naturais. As túnicas encolheram até a mínima expressão e os lenços voltaram a cair até a metade da cabeça, como não se via desde a presidência do reformista Mohamed Khatami, afirma Ángeles Espinosa, correspondente do jornal espanhol El País em Teerã. Já o ministro do Interior iraniano, Mustafa Nayar, destacou que o hijab não tem sido uma norma. O mau uso do véu é preocupante até nas creches, disse Nayar, um ex-responsável da Guarda Revolucionária. O uso obrigatório do hijab no Irã começa na escola para meninas a partir dos 7 anos. A melhor forma de lutar contra quem não respeita o hijab é por meio da educação e do fortalecimento da sociedade contra a invasão cultural estrangeira, disse o ministro, prometendo facilitar empréstimos para as creches que respeitarem os preceitos islâmicos. No fim de junho, o mais provável é que haja novas manifestações de jovens contra o presidente Mahmud Ahmadinejad. O site Iran Focus revelou na quinta-feira que adolescentes picharam muros com a mensagem morte a Khamenei (o aiatola Ali Khamenei, líder supremo religioso) nas principais ruas de Teerã.