Título: Justiça americana promete ajuda mas não libera contas
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2006, Política, p. A8

Crise Procuradores americanos vão investigar contas de Duda Mendonça

O Departamento de Justiça dos EUA vai designar dois procuradores para investigar as contas do publicitário Duda Mendonça e de pessoas ligadas a ele, informaram ontem integrantes da CPI dos Correios. Depois de tentar sem grande sucesso acesso a documentos sobre a movimentação financeira na promotoria de Nova York, em Washington os deputados conseguiram a promessa de cooperação do Financial Crimes Enforcement Network (FinCen) e do Departamento de Justiça, argumentando que os recursos que circularam pelas contas do publicitário são públicos (ou seja, resultado de corrupção). "Ficou claro agora que a CPI tem poderes investigatórios. Saímos mais animados e vamos estabelecer uma estrutura que funcione daqui para frente", disse o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR). O Departamento de Justiça ficou mais confortável em colaborar sabendo que a investigação é séria, incluindo a colaboração do Executivo. Um dos integrantes da comitiva ao EUA é Antenor Madruga Filho, diretor do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça. "Ficou claro que o resultado dessa investigação é importante para o combate futuro à corrupção no Brasil", segundo Maurício Rands (PT-PE). O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) disse que durante a reunião com Mary Ellen Warlow, diretora da divisão criminal internacional, os americanos deram a entender que designariam procuradores para a investigação das contas. Já se sabe que a conta Dusseldorf tem ligação com outras contas, num esquema parecido com outros já levantados em investigações de lavagem de dinheiro. Ontem, em Brasília, PSDB e PFL defenderam, durante a votação de requerimentos na sessão administrativa da CPI dos Correios, a convocação do ex-diretor de Furnas Dimas Toledo. Vários parlamentares dos dois partidos cobraram também nova convocação de Duda. Os requerimentos de convocação dos dois deverão ser analisados na CPI na quarta-feira. Até lá, líderes da base aliada e da oposição tentarão um acordo para a convocação dos dois. Outro requerimento que deve ser analisado é o de convocação do dono do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira. Depois de um depoimento de cinco horas à Polícia Federal, em Salvador, Duda Mendonça disse que confirmou seus depoimentos anteriores à CPI dos Correios e à Polícia Federal. "Eu me considero uma vítima política em ano eleitoral e o Brasil inteiro está vendo isso", disse Duda, ao deixar a PF, acompanhado da sócia, Zilmar Fernandes, que também depôs. O delegado não quis dar detalhes, porque o processo corre em segredo de Justiça. Duda lamentou que pela primeira vez não poderia da festa de Iemanjá, tradicional em Salvador. "Toda imprensa iria atrás de mim", justificou". O depoimento de Dimas Toledo entrou na pauta depois das declarações do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que confirmou na quarta-feira ter recebido R$ 75 mil do ex-diretor de Furnas de um suposto esquema de corrupção montado por Dimas para beneficiar aliados do governo passado. Jefferson disse ainda que o próprio Dimas teria feito a lista, que está em poder da Polícia Federal, com os nomes de 150 parlamentares, como uma estratégia de defesa. Além de Duda, Dimas e do banqueiro, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) defendeu a convocação do ex-secretário de comunicação do PT Marcelo Sereno, investigado por suspeita de influenciar operações dos fundos de pensão. Em depoimento na sub-relatoria de fundos de pensão da CPI dos Correios, o sócio da empresa Guaranhuns Empreendimentos José Carlos Batista admitiu um contrato de R$ 10 milhões com Marcos Valério Fernandes de Souza, mas diz que não o conhece. Batista acrescentou que "para operar no mercado financeiro não é preciso conhecer as pessoas". O empresário também reafirmou o que dissera na CPI do Mensalão, que os recursos recebidos de Valério por meio da Guaranhuns foram transferidos para o PL. Batista, no entanto, disse desconhecer ganhos de R$ 7 milhões entre os anos de 2000 e 2005 na BM&F. (Com agências noticiosas)