Título: Eleição na Costa Rica define adesão ao Cafta
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2006, Política, p. A9

Pequena e relativamente próspera, a Costa Rica se orgulha de ser uma das mais antigas e sólidas democracias da América Latina. Mas essa democracia está sob suspeição. Em 2004, três ex-presidentes se viram envolvidos em escândalos de corrupção. Uma das consequências foi que o estável sistema bipartidário se fraturou. Outra foi que muitos costa-riquenhos se tornaram céticos em relação à política. Na eleição presidencial deste domingo, espera-se que mais gente deixe de votar do que na eleição passada, quando a abstenção foi de 67%, a maior desde 1958. A maioria da excitação da campanha vem de Oscar Arias, o candidato do oposicionista Partido da Liberação Nacional (PLN, de centro). Como presidente, nos anos 80, ele ganhou o Nobel da Paz por seus esforços em negociar o fim das guerras nos países vizinhos. Ele pressionou por uma mudança constitucional para que ex-presidentes pudessem concorrer ao cargo de novo. As pesquisas sugerem que ele terá mais de 40% dos votos válidos - o necessário para ganhar já no primeiro turno. O PLN, de onde veio um dos três ex-presidentes envolvidos em escândalos, foi resgatado pela popularidade pessoal de Arias. A máquina eleitoral do partido é apenas uma sombra do que já foi. O rival mais próximo de Arias é Ottón Solís, que já foi seu ministro antes de romper com o PLN e fundar o Partido da Ação Cidadã. Com uma plataforma anticorrupção, Solís chegou em terceiro no pleito de 2002 e agora tem pouco mais de 20% das intenções de voto. O Partido Social Cristão, que se alterna com o PLN desde a revolução de 1948, deve sair humilhado. Foi o alvo maior do ressentimento dos eleitores quanto à corrupção. Seu candidato deve ser batido até por Otto Guevara, que lidera um partido conservador que defende o livre mercado. Uma proliferação de partidos menores deve ocorrer nos próximos quatro anos, nos quais o presidente deve ficar sem maioria estável no Congresso. Isso pode ser um problema. O crescimento econômico vem se mostrando suficiente, impulsionado mais por uma fábrica de chips da Intel e pelo ecoturismo. mas cerca de 20% dos costa-riquenhos continuam pobres, uma porcentagem que vem caindo muito vagarosamente. Os costa-riquenhos se orgulham de seu Estado de bem-estar social, mas não pagam impostos suficientes para mantê-lo. Um déficit fiscal persistente vem ajudando a empurrar a inflação para mais de 14% ao ano. Arias quer que a Costa Rica ratifique o tratado de livre comércio da América Central (Cafta, na sigla em inglês) com os EUA - sua não-ratificação foi o motivo de o acordo não ter entrado em vigor no começo do ano, como estava programado. Ele quer promover a competição nos setores de seguros e de telecomunicações, ambos monopólios do Estado. Essas medidas são necessárias para o país ficar de acordo com as normas do Cafta. Os costa-riquenhos se dividem quanto ao livre comércio, mas resistiram muito em relação às tentativas anteriores de liberalização da economia. Oponentes de Arias dizem que ele está distante da realidade local depois de tantos anos no circuito de Davos. Solís é contra a ratificação do Cafta. Ele quer que os os EUA acabem com os subsídios agrícolas e dêem livre trânsito para os trabalhadores - objetivos esplêndidos, mas utópicos. Se não for assim, diz, o Cafta pode beneficiar os países mais pobres da América Central, mas não a Costa Rica. Levando-se em conta que Arias ganhe, com ou sem segundo turno, seu principal trabalho vai ser jogar vida nova numa democracia e numa economia que se tornaram sem vigor. E isso pode ser tão difícil quanto acabar com as guerras da América Central.