Título: Disputa no Mercosul pode beneficiar outras regiões
Autor: Marli Olmos e Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2006, Especial, p. A12

O governo brasileiro teme que o Mercosul perca incentivos para outras regiões do mundo, enquanto Brasil e Argentina brigam pelo acordo automotivo. Outra conseqüência negativa dos desentendimentos seria o atraso na negociação com outros blocos como a União Européia. "É fundamental dar um sinal para o mundo de que haverá livre comércio no Mercosul", afirma Antonio Sergio Martins Mello, secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) do Brasil. A Argentina se recusa a estabelecer um prazo para o fim do acordo automotivo. Mello acredita que o Brasil é competitivo para atrair a atenção das matrizes das montadoras porque possui um parque instalada significativo e está na vanguarda da tecnologia, inclusive com os motores bicombustível. O governo está preocupado, no entanto, com o volume de investimentos direcionado para China, Índia, África do Sul, Turquia e os países da Europa Oriental. O MDIC fez um levantamento sobre as indústrias automotivas dessas regiões. A China produziu 5 milhões de veículos em 2004, alta de 14% ante 2003. As montadoras investiram US$ 4,8 bilhões na Europa Oriental em 2004. Todos os fabricantes de veículos do mundo estão fazendo investimentos pesados nessas regiões. Mas o que mais os atrai é o potencial desses mercados. Os dirigentes mundiais do setor automotivo concordam, porém, que o Brasil está na frente em tecnologia, engenharia e qualidade da mão-de-obra. Para o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), Paulo Butori, a região começa a perder competitividade para outros países de baixo custo, independentemente de acertos no bloco do Mercosul. Apesar disso, o dirigente considera que um entendimento na região é "importantíssimo". "É importante que a indústria automobilística trabalhe com a divisão de linhas de produtos complementares entre Brasil e Argentina", completa. Quando a Argentina começou a receber investimentos da indústria automobilística, na década de 90, muitas montadoras optaram por produzir o mesmo modelo de automóvel nos dois países. Na maioria dos casos, suspenderam a duplicidade depois da crise. A General Motors ainda produz Corsa em ambos os países. (RL e MO)