Título: Argentinos tentam agora recuperar investimentos
Autor: Marli Olmos e Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2006, Especial, p. A12

Há até seis anos, a Bosch, maior fabricante de autopeças do mundo, produzia motores de partida e alternadores numa fábrica em Buenos Aires. Essa linha foi transferida para a unidade brasileira e na Argentina funciona até hoje apenas uma pequena operação de fundidos de alumínio. "Conseguimos atender as montadoras instaladas na Argentina com peças fabricadas no Brasil", afirma o presidente da Bosch, Edgar Garbade. "Mesmo com a desvalorização do peso, não vemos motivos para ampliar a operação", completa o executivo. Entre as montadoras, Fiat e Scania também deixaram de produzir veículos depois da crise na Argentina. Há pouco tempo, a Scania informou que poderia retomar a produção de caminhões no país vizinho. Mas o projeto ainda não foi adiante. Algumas montadoras continuaram apostando em manter operações nos dois lados da fronteira. Recentemente, a Toyota fez investimento mais pesado na fábrica de picapes na Argentina. Desde a sua criação, o acordo automotivo do Mercosul foi sempre atropelado pelas divergências e jogo de interesses entre Brasil e Argentina. Soma-se a isso o prejuízo dos argentinos que, além da desvantagem natural de atrair menos investimentos das multinacionais por terem um mercado menor que o brasileiro, perderam ainda mais nos anos da crise. Em 1994, a produção de veículos no Brasil era 3,9 vezes maior que a da Argentina. No ano passado a diferença pulou para 7,7 vezes, segundo levantamento da consultoria argentina abeceb.com. No mesmo período de comparação, a diferença entre as vendas internas pulou de 2,7 para 4,2 vezes. O governo argentino vem tomando medidas para tentar compensar os incentivos que equilibrariam a balança a favor do Brasil na hora de uma montadora tomar uma decisão de investimento. Em julho do ano passado, as autoridades estabeleceram que as montadoras que utilizarem autopeças de fabricação nacional para a produção de novos modelos têm direito a uma devolução de 6% do valor do componente. No caso de um modelo produzido exclusivamente na Argentina, o benefício sobe para 8%. O decreto oficial também prevê que caso uma montadora decida produzir um modelo novo no país e este concorra com algum com outro já em produção, o fabricante que já estiver no mercado também pode reivindicar o benefício. Esta parte da legislação ainda não foi regulamentada. A Volkswagen, que está investindo US$ 100 milhões para produzir na Argentina uma versão perua do Fox ainda neste semestre, será beneficiada. O governo brasileiro admite que o país tem vantagens comparativas, mas responsabiliza a crise econômica vivida pela Argentina pelas diferenças entre os parques automobilísticos dos dois países.