Título: Japoneses oferecem amplo pacote tecnológico
Autor: Daniel Rittner e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2006, Empresas &, p. B3
TV digital Proposta inclui a não cobrança de royalties em equipamentos
Dispostos a confirmar o favoritismo na disputa pelo padrão de TV digital a ser adotado no Brasil, representantes do consórcio responsável pelo sistema japonês ISDB acenaram ontem com um amplo programa de transferência de tecnologia na área. Eles comunicaram a quatro ministros, durante reunião no Palácio do Planalto, que não só abrem mão das patentes como podem oferecer toda a tecnologia necessária à indústria brasileira para a produção local dos conversores de sinais analógicos a digitais - tecnicamente conhecidos como "set top boxes". Segundo informaram os japoneses após a reunião, a disposição deles é estimular não apenas a montagem das peças no Brasil, mas a fabricação local dos componentes. Os representantes do país asiático reiteraram ainda que dispensam totalmente a cobrança de royalties pelos aparelhos vendidos. Admitem também, no caso de escolha do padrão ISDB, a entrada de "vários" pesquisadores brasileiros no comitê gestor que acompanha o desenvolvimento do sistema. Na área de financiamento, Noriyuki Shigeta, conselheiro do consórcio ARIB, gestor do padrão japonês, assumiu o compromisso de igualar o valor de 400 milhões de euros oferecidos pelos europeus. Segundo ele, o Banco Japonês para a Cooperação Internacional "está pronto a atender toda a demanda que houver no Brasil". Shigeta explicou que a instituição japonesa transferiria os recursos a bancos brasileiros, que então emprestariam a juros subsidiados para emissoras de televisão do país. O executivo garantiu que o consórcio se propõe a incorporar ao padrão ISDB eventuais inovações tecnológicas desenvolvidas por técnicos brasileiros, como na área de sistema de compressão de vídeo ou de aplicativos. Segundo ele, o preço das "set top boxes" não inviabilizará a popularização da televisão digital no Brasil. Fabricantes japoneses que vendem as caixinhas conversoras no mercado europeu atingem o preço final de 70 euros, afirmou Shigeta. O conselheiro japonês tentou responder às críticas de que a escolha do padrão ISDB, adotado até agora apenas pelo próprio país asiático - enquanto o europeu DVB-T está em 57 países -, pode limitar as exportações brasileiras. "Provavelmente o sistema que for adotado pelo Brasil também será adotado pela América Latina", avaliou. "Isso vai criar um importante mercado." De acordo com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, o governo brasileiro se sente mais confiante em tomar uma decisão após as apresentações feitas pelos europeus e japoneses. Ele voltou a afirmar que o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) apresentará oficialmente, no dia 10, um relatório completo sobre os aspectos técnicos dos três padrões de TV digital. "A partir dessa data, o presidente Lula estará apto a decidir qual é o melhor sistema", disse Costa. Os últimos ouvidos serão os americanos do padrão ATSC. Está marcada para a próxima terça-feira uma reunião entre eles e os ministros Antônio Palocci (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), além do próprio Costa, que fazem parte da junta responsável por analisar o assunto e dar uma posição ao presidente. Mas o ministro das Comunicações já deixou claro que, pelo menos no que depender dele, os americanos já estão fora da disputa.