Título: Genéricos ganharão mercado de US$ 19 bi
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2006, Empresas &, p. B6

Farmacêutica Alguns medicamentos de marca vão ter patentes expiradas até o fim de 2007, como o Zoloft, da Pfizer

Remédios com vendas de US$ 19 bilhões vão ter as patentes expiradas até o fim de 2007, estima o presidente da divisão farmacêutica do grupo suíço Roche, William Burns. Quando a patente expira, remédios com marca perdem grande parcela das vendas para genéricos, que são clinicamente idênticos, mais baratos e ganham mais partes de mercado. Nos Estados Unidos, principalmente, os grandes laboratórios sofrerão perda de várias patentes, a pressão sobre os preços aumentará e seus lucros serão afetados. No caso da suíça Roche, William Burns diz que a situação é confortável. A companhia perdeu em julho do ano passado a patente do Rocephin, um antibiótico que foi um dos mais vendidos do grupo. As vendas caíram 29%, ficando em pouco mais de US$ 700 milhões. Mas ele diz que, nos próximos dois a três anos, nenhum dos principais remédios da Roche perderá patente, e a companhia poderá continuar crescendo num ritmo até quatro vezes mais rápido que o mercado global. A Novartis, também suíça, avalia que o mercado mundial de genéricos crescerá 11% ao ano entre 2005 e 2010. A companhia, que vem crescendo neste segmento adquirindo fabricantes como a alemã Hexal, já possui 14% de suas vendas vindas da Sandoz, sua empresa de genéricos. A Novartis é a segunda em genéricos no mundo, atrás da israelense Teva. Já os gigantes americanos Merck e Pfizer têm uma situação diferente. Ambos não têm conseguido lançar um número suficiente de novos remédios para compensar o vencimento de proteção de alguns produtos que davam mais lucros. A Merck informou esta semana que no último trimestre de 2005 as vendas de seu principal produto, a droga contra colesterol Zocor, caíram 18% por causa da concorrência de cópias genéricas, que estão agora disponíveis fora dos EUA. Em junho, termina a proteção no mercado americano, mas a farmacêutica já se antecipou, fechando um acordo com uma empresa indiana para que ela consiga obter a licença das autoridades regulatórias para vender a versão genérica com 180 dias de exclusividade nos EUA, um direito não existente em países, como o Brasil. Por sua vez a Pfizer perdeu em novembro a patente de seu antibiótico altamente vendido Zithromax. Vai sofrer tambem com a expiração da patente do antidepressivo Zoloft este ano e de pílulas para a pressão Norvasc em 2007. As companhias farmacêuticas americanas estiveram entre as mais lucrativas nos últimos anos, mas a situação começa a mudar ligeiramente com a expansão dos genéricos. Os governos nos países industrializados estimulam o consumo de genéricos, para reduzir o déficit na área de saúde. Na França, a venda de genéricos alcançou 1,4 bilhão de euros, numa alta de 30% em relação ao ano anterior. Na defensiva, o executivo Burns, da suíça Roche, ressalva que autoridades da área de saúde nos Estados Unidos, União Européia e Japão "estão muito nervosas" sobre genéricos, porque não são fáceis de serem copiados e darem a segurança ao consumidor. A expectativa da indústria, segundo Burns, é que os governos usem o dinheiro que economizam com genéricos para adquirir remédios novos para melhorar a assistência as populações. (Colaborou André Vieira, de São Paulo)