Título: Briga do algodão com EUA está longe do fim
Autor: Mônica Scaramuzzo e Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2006, Agronegócios, p. B11

Comércio Americanos ainda não reduziram os subsídios domésticos, que também foram condenados pela OMC

Os produtores brasileiros de algodão estão em contato permanente com Brasília para que o Ministério das Relações Exteriores pressione os EUA a reduzir também os subsídios domésticos concedidos a seus cotonicultores. Na noite de quarta-feira, a Câmara dos deputados americana aprovou a eliminação do programa "Step 2", que envolve os subsídios às exportações do produto. Também foi aprovada uma queda dos subsídios gerais às commodities, mas considerada tímida (ver ao lado). O fim do "Step 2" - que depende de sanção do presidente Bush - foi determinada pela Organização Mundial do Comércio (OMC) depois de disputa aberta a pedido do Brasil. Hélio Tollini, diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), concorda que o fim do "Step 2" é uma vitória, mas alerta que as ferramentas de apoio doméstico ajudam a distorcer os preços internacionais da commodity e que a OMC também determinou a redução desses pagamentos. A mesma posição defendida pelo Itamaraty em nota divulgada ontem (dia 2). É o caso do "Marketing Loan Program", que garante aos produtores renda de 52 centavos de dólar por libra-peso na produção de algodão e é o mais importante subsídio doméstico concedido por Washington. Também foram condenados o "Counter-Cyclical Payments" e o "Market Loss Payments", que custeiam a diferença entre os 72,4 cents por libra-peso definidos como preço-alvo e a cotação no mercado. "Os subsídios ao algodão não acabaram. O Brasil precisa insistir nesse tema", reforça Pedro de Camargo Neto, ex-secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura e mentor da disputa aberta na OMC. Segundo ele, que preside a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), os programas domésticos funcionam como uma espécie de preço mínimo garantido para o produtor americano. Camargo Neto observa que os EUA gastam US$ 2,2 bilhões por em subsídios domésticos ao algodão, montante bastante superior ao do "Step 2", de cerca de US$ 415 milhões. O "Step 2", que já deveria ter sido eliminado em julho de 2005, conforme determinação da OMC, é subsídio às exportações porque paga ao produtor a diferença entre o preço doméstico e o preço internacional. Camargo Neto reclama que Washington demorou demais em definir sua extinção e lembra que o programa só deverá acabar de fato a partir de agosto próximo. A OMC também determinou que os gastos com apoio doméstico deveriam se reduzidos até setembro passado, mas, nesse campo, os EUA ainda não se moveram. Por isso os brasileiros defendem uma revisão do painel da OMC para "destravar" o governo americano. Tollini nota que, na prática, mesmo a eliminação dos subsídios às exportações não terão reflexo imediato sobre as oscilações das cotações no mercado externo. Para ele, tais efeitos poderão começar a ser sentidos na próxima safra (2006/07), que começará a ser plantada no Brasil novembro deste ano. Ontem, na bolsa de Nova York, os contratos do produto para maio fecharam a 58,40 centavos de dólar por libra-peso, alta de 111 pontos. Nos últimos doze meses, a valorização chega a 27,65%. Apesar desses ganhos, os cotonicultores consideram que os preços estão em baixo patamar e decidiram reduzir a produção nesta safra 2005/06, também influenciados pelo câmbio adverso às exportações. Dados da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) mostram que a produção poderá cair cerca de 20% sobre 2004/05, para 985 mil toneladas.