Título: Líderes reabrem negociação
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 18/05/2010, Mundo, p. 20

Governantes dos dois blocos retomam o diálogo na busca de um pacto ambicioso e equilibrado, mas esbarram na questão agrícola

Líderes de 10 dos 25 países-membros da União Europeia (UE) participam hoje da 6ª reunião de cúpula com 33 colegas da América Latina e do Caribe (ALC), em Madri, preocupados com o resultado da reunião de ontem, entre a UE e o Mercosul, realizada também na capital espanhola. Decidimos retomar as negociações com o objetivo de chegar a um acordo ambicioso e equilibrado (com o Mercosul), anunciou ontem o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, que ocupa a presidência temporária da UE.

Enquanto isso, em Bruxelas (Bélgica), 16 ministros de Relações Exteriores da UE expressaram seu temor pela reabertura das negociações do bloco europeu com o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), bloqueadas desde 2004. Mais da metade dos países da UE temem que o pacto prejudique o setor agropecuário europeu. As condições agrícolas não são as mesmas na Europa e no Mercosul, disse ao Correio, de Paris, o porta-voz da Federação Nacional dos Sindicatos de Exploração Agrícola (FNSEA), Arnaud Lemoine. O custo da mão de obra não é o mesmo nos dois blocos; as condições sanitárias da produção não são as mesmas. Nós já temos um desequilíbrio comercial a favor do Mercosul. Se houver um novo acordo, o desequilíbrio vai se acentuar ainda mais e nós vamos perder muitos agricultores na França e na Europa, ressaltou.

Apesar dos argumentos defendidos pela França, ficou acertado pelos presidentes europeus em Madri que a próxima rodada de conversas ficaria a mais tardar para princípios de julho. O acordo Mercosul e União Europeia é essencialmente uma iniciativa da Comissão Europeia (dirigida pelo ex-presidente português José Manuel Durão Barroso) e apoiado pela Espanha. No entanto, Portugal, Itália, Alemanha, França, Áustria, Irlanda, Grécia, entre outros, são contra, destacou Arnaud. Zapatero defende que um acordo de livre comércio entre os dois blocos pode representar por ano 5 bilhões de euros suplementares de exportações da UE para o Mercosul e do Mercosul para a UE.

O mandatário espanhol destacou que a abertura comercial é a melhor resposta à crise econômica, perante as tentações de protecionismo. A vice-presidenta espanhola, María Teresa Fernández de la Vega, também recordou que as negociações entre a UE e o Mercosul eram uma das prioridades da presidência espanhola na UE. Devemos abordar o conceito de protecionismo em toda sua extensão. Alguns creem que ele se encontra nas chegadas aos portos, mas também é subsidiar as produções, concluiu, no fim do encontro, a presidenta argentina, Cristina Kirchner, em referência à ajuda pública que a UE concede aos seus agricultores.

Arnaud reclama que os cinco bilhões de euros de lucro para a UE e para o Mercosul citados por Barroso e Zapatero se baseiam apenas em trocas industriais. Eles se esqueceram de todas as trocas agrícolas. Segundo o porta-voz da FNSEA, o desequilíbrio previsto somente para a agricultura oscilará entre 3 e 5 bilhões de euros. Arnaud, porém, reconhece que os benefícios do acordo UE-Mercosul na área agrícola contemplarão as grandes redes de supermercado e de distribuição. Seria uma vantagem para vocês, que teriam melhores preços para o consumo, e para nós, porque são os grandes grupos alemães e franceses que gerenciam esses mercados, disse.

Já analistas em Bruxelas consideram que, se o acordo não sair durante a presidência espanhola, a oportunidade pode se perder para sempre. E o velho continente, às voltas com uma grave crise financeira, talvez não possa se dar ao luxo de dispensar um novo mercado com 267 milhões habitantes e o quinto Produto Interno Bruto (PIB) do planeta.

Caribe Assim como ainda falta afinar o tom das negociações com o Mercosul, o bloco europeu precisa melhorar sua relação comercial com a América Latina e o Caribe. A Europa ainda é o segundo sócio comercial da ALC, mas se nada fizer poderá perder o lugar para a China até 2020. No plano político, a reunião de cúpula entre UE e ALC começa hoje sem a presença dos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), que indicou problemas na agenda; Raúl Castro (Cuba) e José Mujica (Uruguai) ambos por questões de saúde; e de Porfirio Lobo (Honduras). Do lado europeu, as ausências mais sentidas serão as do premiê da Itália, Silvio Berlusconi, e do Reino Unido, James Cameron.

Frente às tentações do protecionismo, a melhor resposta à crise econômica é a abertura comercial

José Luis Rodríguez Zapatero, primeiro-ministro da Espanha