Título: Bancos médios superam aperto e registram lucro
Autor: Maria Cristina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2006, Finanças, p. C3

Uma amostra dos primeiros balanços de 2005 divulgados até agora mostra que o ano terminou melhor do que se previa em seu início para os bancos de médio porte. Mas, a qualidade do resultado não é a toda prova. O lucro líquido consolidado do BMG, BicBanco, Sofisa, Pine, Industrial, Modal e Banco de Ribeirão Preto (BRP) ficou em R$ 620,047 milhões 27,8% a mais do que os R$ 485,264 milhões de 2004, segundo cálculos da consultoria Austin Ratings. A rentabilidade média desse grupo de bancos subiu para 29,6% em comparação com os 29% de 2004. Para o presidente da Austin Ratings, Erivelto Rodrigues, o importante é que os balanços mostram que já foi superado o efeito negativo da quebra do Banco Santos nesse segmento de mercado. No final de 2004 e início de 2005, os grandes investidores institucionais reduziram significativamente as aplicações nos bancos médios, depois das perdas sofridas no Banco Santos. Os depósitos totais consolidados dos sete bancos que divulgaram balanço cresceram 5,2% no ano passado, totalizando R$ 4,561 bilhões. Deprimiram a média os dados do BMG, que perdeu 47,1% dos depósitos; o Modal, com redução de 43,5%; e o BRP, de 5,3%. Mas, alertou Rodrigues, é preciso ver que alguns desses bancos " mudaram a estrutura de captação " . O BMG, por exemplo, voltou-se para o mercado externo, lançou meia dúzia de fundos de securitização e ainda cedeu boa parte da carteira de crédito para a Caixa Econômica Federal, Cetelem e Banco Itaú. Foi exatamente a cessão de operações de crédito consignado que também garantiu o lucro de R$ 382,839 milhões obtido pelo BMG, 39% superior ao realizado em 2004. O retorno sobre o patrimônio líquido ficou em 47,6%, um pouco abaixo dos 51,3% do ano anterior. Rodrigues calcula que 80% do lucro líquido foram obtidos com a cessão da carteira de crédito, que terminou o ano de 2005 em R$ 1,86 bilhão, 4,5% abaixo de 2004. O Banco Pine, segundo o especialista, também fez cessões de carteira que ajudaram a mais do que dobrar o lucro líquido de 2005, que cresceu 111,7% para R$ 67,872 milhões e a levar o retorno para 32,5%. Sem a cessão, calculou Rodrigues, o retorno teria ficado ao redor de 22%. Já o BicBanco não teve a captação afetada, mas pôs o pé no freio do crédito. Ainda assim, a carteira cresceu 21,6% para R$ 2,8 bilhões, voltando para o patamar do terceiro trimestre de 2004. A cautela justificou a redução de 20% do lucro líquido em 2005 sobre 2004 para 82,058 milhões. O retorno sobre o patrimônio ficou em 16,2%. O vice-presidente Milto Bardini, afirmou que não só as reverberações da quebra do Banco Santos mas também a crise política em meados do ano justificaram a cautela. Sem dificuldades na captação, o banco acaba de obter US$ 30 milhões em crédito da International Finance Corporation (IFC), afiliada do Banco Mundial, para financiar o comércio exterior. Ao contrário do Pine e do BMG, o BicBanco opera mais com empresas de pequeno e médio porte e tem operação residual de crédito consignado.