Título: Cérebros jovens por trás da megaoperação
Autor: Claudia Safatle
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2006, EU & FIM DE SEMANA, p. 4

Os Personagens Principais membros da equipe que articulou o Plano Cruzado tinham pouco mais de 30 anos na época e doutorado no exteri

Entusiasmo é a definição de como o Plano Cruzado, lançado no dia 28 de fevereiro de 1986, foi recebido pela população. O carismático ministro da Fazenda, Dílson Funaro, e membros da equipe econômica que elaboraram o programa eram saudados e aplaudidos nas ruas pela população, que apoiou inicialmente o plano ao fiscalizar os preços tabelados nos estabelecimentos comerciais. Uma dos traços marcantes da equipe era a juventude. Persio Arida, André Lara Resende, Francisco Lopes, João Sayad, Luiz Gonzaga de Mello Belluzo e João Manuel Cardoso de Mello, entre outros, tinham entre 30 e 40 anos quando elaboraram e implantaram o programa. Mais velho, com 53 anos naquele ano, somente o ministro Dílson Funaro. Outra característica é que muitos deles tinham doutorado em universidades americanas. Persio Arida, André Lara Resende e Eduardo Modiano fizeram doutorado no Massachusetts Institute of Techlogy (MIT); Francisco Lopes, em Harvard; João Sayad e Edmar Bacha, na Yale University, e Andréa Calabi, em Berkeley. Para a equipe econômica do Cruzado, confluíram economistas que se aglutinavam em estudos e discussões de três das mais importantes universidades do país: Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade de São Paulo (USP). Eram do núcleo da PUC-Rio, entre outros, André Lara Resende, Persio Arida e Chico Lopes. Do Instituto de Economia da Unicamp, os dois assessores especiais de Funaro: Belluzzo e João Manuel. Da Faculdade de Economia da USP, o representante era Sayad, ministro do Planejamento. Essa origem acadêmica enriqueceu o debate econômico, mas também provocou desconfianças, desencontros e brigas. Muitas brigas. Bem-humorado, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg observa em seu livro "Aventura e Agonia nos Bastidores do Cruzado", que o pessoal da PUC-Rio achava os da Unicamp "esquerdistas"; o pessoal da Unicamp considerava os da PUC-Rio "reacionários, monetaristas enrustidos", enquanto que para "a gente da USP é difícil admitir que a verdade e a excelência acadêmica possam estar em outro lugar que não lá".