Título: O primeiro e o último a saber do plano
Autor: Claudia Safatle
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2006, EU & FIM DE SEMANA, p. 4

Celso Pinto, o jornalista que comandou a criação do Valor, foi o primeiro repórter brasileiro a se interessar pelas propostas de reforma monetária. Tomou conhecimento delas em julho de 1984, numa conversa com Persio Arida, e desde então acompanhou de perto todos os passos que levaram ao Plano Cruzado. Em 13 de agosto daquele ano, Celso publicou na "Gazeta Mercantil" a primeira matéria que tratava do assunto: "O debate da desindexação". Discutia as diversas propostas de combate à inflação, incluindo as idéias de Arida e André Lara Resende. Os economistas que depois viriam a preparar o plano tinham em Celso um interlocutor privilegiado e temido. Privilegiado, porque podiam trocar idéias com ele em pé de igualdade. Temido, na reta final, porque Celso poderia descobrir que a coisa estava em andamento. Dado seu conhecimento, ele reconheceria os movimentos preparatórios do plano. Acabou não descobrindo por excesso de conhecimento. Celso achava que o plano seria lançado em 15 de fevereiro, porque os preços do principal índice eram colhidos de 15 de mês a 15 do seguinte. Para que a nova moeda não carregasse a inflação da velha, deveria estrear num dia 15. Celso Pinto chegou a esperar a coisa para 15 de janeiro. Não saindo, relaxou. Mas o pessoal do Cruzado inventou um casuísmo para zerar a inflação no fim do mês. Ainda assim, julgou-se necessário mandar Celso para bem longe. No fim de fevereiro, disseram a ele que as principais autoridades econômicas, incluindo Dílson Funaro, estariam em Punta Del Este, Uruguai, numa reunião internacional. Assim, no lançamento do Cruzado, em 28 de fevereiro, Celso estava a 3 mil quilômetros de Brasília. Depois, Arida se desculpou: "De outro jeito, ele descobriria tudo". Ainda se acreditava que planos secretos funcionavam.