Título: Emprego aumenta mais nas empresas médias e grandes
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2006, Brasil, p. A4

Conjuntura Pequeno negócio perde participação no total de ocupados

As médias e grandes empresas estão liderando a geração de novos empregos no país. Em 2005, 56,3% dos ocupados estavam trabalhando em locais que empregam mais de 11 pessoas. No ano anterior, essa porcentagem era de 55,8% e, em 2003, menor ainda, de 55,1%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na região metropolitana de São Paulo , esse movimento também ficou bem evidente. Entre 2004 e o ano passado, o maior crescimento do nível de emprego, 12,4%, se deu nas empresas que possuem mais de 500 funcionários, de acordo com os dados da Fundação Seade e do Dieese. Ao mesmo tempo, nas empresas que têm entre 6 a 49 empregados, o aumento da ocupação foi mais tímido e ficou em 6,8%. No caso dos dados do IBGE, que dizem respeito ao país como um todo, as pequenas empresas, com até cinco funcionários, perderam participação na ocupação, indo de 37,5%, em 2003, para 37,1% ano passado. Na avaliação de Alex Loloian, da Fundação Seade, com o crescimento das exportações e do setor de serviços, as empresas desse ramo acabaram por expandir o quadro de funcionários. "Montadoras, autopeças e call centers são grandes empregadores e tiveram bom desempenho no ano passado", explica. Pela pesquisa de emprego do Seade feita em parceria com o Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), a indústria metal-mecânica, que agrega as companhias automobilísticas, por exemplo, aumentou em 6,1% o contingente de ocupados. Já as empresas que prestam serviços na área de comunicação, como as de telemarketing, incrementaram em 10,4% o número de trabalhadores. As prestadoras de serviços auxiliares, que englobam empresas que realizam treinamento de mão-de-obra, locação de veículos, escritórios de representação, entre outros, empregaram em 2005 quantidade de pessoas 19,7% superior à verificada em 2004. Para Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, o avanço na contratação por parte de empresas de maior porte reflete o crescimento econômico verificado nos últimos dois anos, que estimulou o mercado de trabalho e fez diminuir a informalidade. "Esse dado deixa ainda mais claro que a melhora na qualidade no Brasil nos últimos anos foi sólida." Segundo o pesquisador do IBGE, as micro e pequenas empresas tendem a ter mais pessoas contratadas sem carteira assinada, para evitar o alto gasto com encargos. A abertura de novas vagas em empresas maiores caminha em sentido oposto, indicando uma maior organização do mercado de trabalho. Os números da região metropolitana de São Paulo mostram que nas microempresas, com até cinco funcionários, o emprego com carteira ficou praticamente estável, com leve queda de 0,3%. Já o trabalho informal, contudo, teve aumento de 2% para as empresas de pequeno porte. No caso das maiores, que empregam entre 100 e 499 pessoas, o emprego com carteira cresceu 10,2%, acima da evolução das vagas sem carteira, que ficou em 3,7%, pelos números do Seade e do Dieese. O economista-chefe do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Carlos Cavalcanti, acredita que a criação de postos de trabalho em empresas maiores e mais bem estruturadas está "menos ligada ao nível de atividade e mais ao processo de internacionalização da economia brasileira". Segundo ele, as empresas que estão inseridas no comércio internacional precisam de trabalho qualificado. "Quem tem qualificação acaba sendo contratado pelas vias formais, com carteira assinada. Além disso, as empresas que mais exportam são as de maior porte", diz. Cavalcanti acredita, no entanto, que com o aumento da fiscalização realizada pelo Ministério do Trabalho e com um sistema tributário menos oneroso, as micro e pequenas empresas estão, aos poucos, contratando mais gente pelas vias formais. "Elas estão percebendo que é mais caro pagar multas por trabalho sem carteira assinada do que contratar formalmente seus empregados."