Título: Um vice para isolar os infiéis
Autor: Roriz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2010, Política, p. 2

Com a confirmação da indicação de Temer para a chapa de Dilma, PMDB parte agora para a estratégia de enquadrar os dissidentes nos estados, principalmente em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo

Ao indicar o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (SP), para compor como vice a chapa da petista Dilma Rousseff, a Executiva Nacional do PMDB traçou estratégia para isolar os dissidentes da legenda favoráveis ao pré-candidato do PSDB, José Serra. A drenagem de infiéis terá a atuação ativa de Temer(1). Ele se dedicará a resolver problemas nos estados e tentará arrebanhar o maior número de prefeitos peemedebistas à empreitada de Dilma. O primeiro compromisso do presidente da Câmara será um encontro na semana que vem com prefeitos correligionários de Santa Catarina com a meta de comprometê-los à sua campanha presidencial.

A investida se repetirá em outros estados com diretórios regionais pró-tucanos, como Rio Grande do Sul e São Paulo. O discurso, para agradar a todos, é liberar os peemedebistas a fazer a aliança com quem bem entenderem na disputa pelo governo estadual, com o compromisso de que trabalhem em uníssono nacional. ¿Os dissidentes são minoritários, vamos resolver no diálogo e temos tempo para isso¿, disse o presidente da Câmara. Uma parte importante da estratégia está no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que julgará consulta do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) endereçada ao ex-governador de São Paulo Orestes Quércia e ao senador Jarbas Vasconcelos (PE).

A meta é evitar que os dois façam campanha aberta para José Serra, bem como conter os avanços pró-tucanos em outros estados. Essa orientação tem apoio do Rio Grande do Sul, apesar de o diretório regional ter uma orientação contrária à Dilma Rousseff. ¿Se o partido tem uma coligação nacional, o estado tem que seguir¿, disse o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), frisando que a cúpula do partido não deve se intrometer nas alianças regionais.

Usando São Paulo como exemplo, isso significa que Quércia poderá somente fazer campanha pelo candidato do PSDB ao governo paulista, Geraldo Alckmin, participando da chapa ao Senado, mas sem pedir voto para Serra. Em Pernambuco, o tucano poderá ver ruir sua intenção de ter um palanque de oposição com a candidatura de Jarbas. ¿Não dá para termos um namoro fiel e chegar no casamento e começar a trair¿, resumiu Cunha.

Situação em Minas Na reunião da Executiva de ontem, havia uma intenção de apresentar uma resolução proibindo militantes de desrespeitar a orientação nacional antes da decisão do TSE, mas para não criar tensões desnecessárias com estados com problemas considerados menores, decidiu recuar. O deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), pré-candidato ao governo baiano, e o senador Gerson Camata (ES), posicionaram-se contra a decisão. Geddel vive às turras com o governador da Bahia e ex-aliado, Jaques Wagner, e Camata, apesar de não concorrer a um mandato eletivo, quer fazer campanha para a mulher, deputada Rita Camata (PSDB-ES), que disputará vaga no Senado.

Temer também pretende se dedicar à solução de impasses em estados considerados fundamentais para a aliança. Ele disse que Bahia e Pará estão praticamente resolvidos e que resta o acordo em Minas Gerais. Segundo o peemedebista, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, voltou a se comprometer a anunciar até 6 de junho o acordo mineiro. ¿Nós consideramos o problema de Minas Gerais resolvido¿, disse o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), sem querer entrar em detalhes sobre se o acerto contempla o senador Hélio Costa (PMDB-MG) como cabeça de chapa. A expectativa nos bastidores é que o PT anuncie daqui duas semanas que o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel abandona a disputa em favor de Costa e se lance ao Senado.

Segundo Alves, o acordo avançou de tal maneira que os dois partidos discutem como será a aliança no estado para a disputa proporcional. A desavença é que o PT aceita coligar-se na eleição para deputado federal, mas não para estadual. Essa proposta desagrada ao deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) que pediu a intervenção do senador Hélio Costa.

A reunião da Executiva Nacional também decidiu convocar a Convenção Nacional, encontro que oficializará Temer e o apoio a Dilma, para 12 de junho, como havia antecipado o Correio.

1 - Viagem O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), começa a tocar já nesta semana uma agenda de pré-candidato a vice. Ele viaja hoje à noite para Nova York. Vai participar de encontro da Câmara Brasileira-Americana de Comércio a partir de quinta ao lado da petista Dilma Rousseff. Na sexta, ele estará ao lado de sua provável companheira de chapa em discurso sobre a eleição presidencial promovido pela Bolsa de Valores de São Paulo na cidade norte-americana.

perfil Michel Temer Confiança de Lula

Considerado um dos únicos políticos capazes de organizar a federação de interesses que se tornou o PMDB, o deputado Michel Temer (PMDB-SP) viu recentemente sua trajetória abalada, depois de quase não conseguir se reeleger em 2006. O parlamentar, no entanto, conseguiu reerguer-se graças a um acordo com o PT, ganhou fôlego político, chegou à Presidência da Câmara e foi alçado como a unanimidade capaz de levar o PMDB a uma aliança com o PT em torno da candidatura de Dilma Rousseff. Para isso, o deputado teve de conquistar a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da maioria dos petistas.

Lula teve dificuldades de aceitar Temer por conta da oposição que o deputado fez ao seu governo durante o primeiro mandato, quando era visto como uma voz dos tucanos dentro do PMDB. Não foi só a dificuldade de se eleger que Temer teve de enfrentar. Ele foi acusado de crime ambiental e de ter aumentado seu patrimônio com terras griladas. No ano passado, acabou citado dentro das investigações da Caixa de Pandora, mas negou e afirmou que iria processar o responsável pela calúnia. Procurador do Estado de São Paulo, especialista em direito constitucional, Temer tem um perfil de político discreto, mas protagonizou uma discussão bastante acalorada, em 1999, com o então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães. Tem 69 anos e está em seu sexto mandato como deputado federal. Ocupou a Presidência da Câmara do Deputados por dois biênios, entre 1997 e 2000. (TP)

Dilma faz um afago em Temer

Igor Silveira ¿Quero saudar o PMDB por indicar um político com tantas qualidades¿. O afago ao principal partido aliado foi a primeira atitude em público da pré-candidata Dilma Rousseff após a indicação de Michel Temer para a vaga de vice na chapa petista à Presidência da República. A legenda é classificada pela ex-ministra da Casa Civil como parte fundamental de uma aliança estratégica para a governabilidade do governo Lula. Com a aprovação do presidente da Câmara pela executiva do partido, os caciques do PT e PMDB têm, agora, mais argumentos para resolver imbróglios nos palanques de alguns estados, como o Rio Grande do Sul, onde o peemedebista José Fogaça já demonstrou interesse em apoiar José Serra, do PSDB.

¿Precisamos ter cautela em relação aos acordos porque cada estado tem uma realidade. Nos próximos dias, acredito que teremos uma demonstração mais apurada de como ficarão as configurações em todo o Brasil¿, ressaltou Dilma, durante um encontro com prefeitos do Partido dos Trabalhadores e de legendas da base aliada, na noite de ontem, em Brasília.

Questionada se a escolha de Temer poderia acrescentar mais experiência à sua candidatura, Dilma afirmou que não era uma política tradicional. ¿Posso não ter experiência eleitoral, mas a minha experiência administrativa é inquestionável.¿

Dilma aproveitou a oportunidade, ainda, para explicar, ao contrário do que teria dito em uma entrevista de rádio, no início dessa semana, que não é a favor da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF). ¿Eu sou contra o aumento da carga tributária. No entanto, não dá para a área da Saúde perder R$ 40 bilhões sem qualquer contrapartida. O fim da CPMF colocou os brasileiros em uma `arapuca¿¿, concluiu.