Título: Ciro articula candidatura a vice de Lula
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2006, Política, p. A13

Eleições Desincompatibilização de ministro está definida, mesmo que campanha seja a deputado federal

Ciro Gomes, ministro da Integração Nacional, deseja ser o vice do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pela reeleição. Seu partido, o PSB, também gostaria de ver Ciro como candidato a vice de Lula. O presidente, que só confirmará sua candidatura em junho, trabalha com duas possibilidades: convidar o ministro ou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim. As chances de Ciro ser o candidato a vice de Lula são hoje, segundo interlocutores do presidente, maiores que as de Jobim. O presidente do Supremo é considerado, no Palácio do Planalto, o parceiro ideal de Lula porque, tendo sua base eleitoral no Rio Grande do Sul, ajudaria o presidente a conquistar votos na região Sul, justamente onde ele aparece com o pior desempenho nas pesquisas. Ele traria também o apoio de setores do PMDB para a candidatura petista. Jobim, um magistrado, daria ainda à chapa de Lula um "reforço ético", uma bandeira que o presidente e o PT perderam com a experiência de governo e a crise política. O obstáculo de Jobim é o PMDB, partido ao qual ele vai se filiar quando deixar a presidência do Supremo, em março. O partido decidiu que terá candidato próprio à Presidência da República. Escolherá esse candidato no próximo mês. Já se sabe que, seja qual for o resultado da prévia, a legenda sairá rachada da disputa. Nesse cenário, a tendência de Jobim é candidatar-se a uma vaga na Câmara dos Deputados. Um atrativo para ele é a possibilidade de ser o próximo presidente da Câmara - em Brasília, avalia-se que o PMDB deverá eleger este ano a maior bancada de deputados, ganhando, portanto, a primazia de eleger o presidente da Casa. Foi justamente por causa das dificuldades do PMDB que se cogitou a filiação de Jobim ao PSB. O presidente do Supremo explicou a amigos, no entanto, que, no Rio Grande do Sul, mudanças de partido não são bem-vistas pelos eleitores. Mesmo estando hoje sem partido por causa do cargo que exerce, Jobim tem a imagem em seu Estado muito associada ao PMDB. Diante dessas dificuldades, a alternativa Ciro cresce no Planalto. São várias as razões. A primeira delas é que o ministro optou por atrelar seu futuro político ao de Lula. Descartou voltar para o Estado natal, o Ceará, e disputar o governo. Lá, ele prefere investir na ascensão do irmão, Cid Gomes. Cortejado por artistas ligados à sua mulher, a atriz Patrícia Pilar, Ciro pensou em transferir seu domicílio eleitoral para o Rio de Janeiro, mas desistiu porque esperava um movimento amplo, que não aconteceu, em torno de seu nome. Só assim ele disputaria o governo fluminense em 2006. Ciro não contempla a possibilidade de disputar a Presidência contra Lula. Seu projeto presidencial está adiado para 2010. Tendo obtido 12% dos votos na eleição para presidente em 2002, ele é um político com visibilidade nacional. Embora não agregue votos para Lula no Nordeste, onde fica sua terra natal, o ministro, segundo as pesquisas eleitorais, tem um eleitorado não-petista nas outras regiões do país. Sua penetração é maior no chamado extrato médio da classe média, onde Lula perdeu popularidade por causa da crise política, e entre os pequenos empresários. Como espera que a campanha presidencial seja fortemente polarizada entre o PT e o PSDB, Lula conta com Ciro para enfrentar os tucanos, especialmente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o possível candidato à presidência, o prefeito José Serra. Os dois são desafetos de Ciro desde os tempos em que ele era filiado ao PSDB. "Ele vai servir para bater no PSDB durante a campanha, enquanto Lula ficará na sua versão 'paz e amor', longe desse embate direto", comentou um político próximo ao presidente. Já está certo que Ciro deixará o ministério no fim de março, para cumprir o prazo de desincompatibilização exigido pela lei eleitoral. Se não sair candidato a vice de Lula, disputará uma vaga de deputado federal, ajudando seu partido a cumprir a cláusula de barreira. A dificuldade de Ciro é que, entre a decisão de se candidatar e a confirmação da candidatura de Lula à presidência, transcorrerão três meses. "Ele tem até 31 de março para decidir", assinalou uma fonte. O plano é que, entre abril e junho, quando Lula anunciará oficialmente sua candidatura, Ciro trabalhe na elaboração de uma proposta de programa de governo para o PSB. O ministro é cotado também para ser o coordenador do programa de governo na campanha de Lula. Antes de escolher o vice, o presidente terá que resolver um problema delicado: o destino do atual vice-presidente José Alencar. Lula não quer mais Alencar como seu vice. Uma saída seria lançá-lo candidato ao governo de Minas Gerais, mas, lá, Alencar bateria de frente com o atual governador, Aécio Neves (PSDB), candidato à reeleição e aliado do PSB no Estado. Uma outra solução seria disputar uma vaga no Senado, mas, novamente, Alencar esbarraria num candidato mais forte - o ex-presidente Itamar Franco -, que tem, inclusive, o apoio de Aécio.