Título: Vale enfrenta problema com índios em Carajás
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2006, Empresas &, p. B6
Ferrovia
Até o início da noite de ontem, a Vale do Rio Doce ainda tinha quatro funcionários tomados como reféns e parte da estrada de ferro São Luís-Carajás bloqueada pelos índios da comunidade Guajajaras, do Estado do Maranhão. Apesar da companhia ter recorrido juridicamente contra os atos, iniciados no dia sete, conseguindo obter liminar que foi acatada pelo juiz da 4ª Vara Federal de São Luís, exigindo providências das autoridades, a situação não se alterou no prazo de 24 horas. O sequestro dos empregados, ocorrido anteontem, levou a mineradora a criticar o que chamou de "violência contra os direitos humanos", em nova divulgada ontem. Já a interdição da ferrovia afeta os embarques da Vale em cerca de 232,8 mil toneladas de minério de ferro por dia da mina de Carajás, num cenário de demanda forte no mercado internacional, conforme cálculo baseado na projeção de produção da mineradora para este ano. A companhia não quis revelar dados sobre prejuízo nas operações. Neste ano, a Vale prevê produzir 85 milhões de toneladas de minério de ferro em Carajás, que são escoadas pela ferrovia, além de manganês e cobre. É a terceira investida de índios contra a Vale, desde outubro de 2005. Agora, a companhia nada tem a ver com o foco do litígio. O que os índios Guajajaras querem com isso é reivindicar em um encontro direto com os presidente da Funai e da Funasa (que cuida da saúde dos índios) melhores condições de atendimento à saúde da tribo. "Os Guajajaras não têm nenhuma reivindicação a fazer à Vale", destaca a nota da companhia. Os problemas da Vale com índios são antigos, mas se intensificaram nos últimos quatro meses. Em 30 de outubro, cerca de 280 índios da comunidade Xikrin, incluindo guerreiros armados, invadiram o núcleo urbano de Carajás, onde residem 5 mil funcionários da companhia. A pressão, naquela vez, era para obter benefícios adicionais aos já concedidos pela empresa, segundo a Vale. Na época, divulgou que não era a primeira vez que isso ocorria e que os índios, dentre outros pedidos, queriam avião bimotor, milhares de litros de gasolina e carros de luxo. Um mês depois, 100 índios Krenak interditaram a Estrada de Ferro Vitória a Minas, da Vale, em Minas Gerais. O fato se deveu a uma briga entre os indígenas e o consórcio da Hidrelétrica de Aimorés, do qual a Vale faz parte. Eles reivindicavam que a Funai formasse um grupo técnico para reconhecer a área de Sete Salões como suas. Segundo a Vale, apenas em 2005 a empresa destinou R$ 19 milhões para programas de apoio às comunidades indígenas.