Título: Aftosa na Argentina pode acelerar fim de embargo ao Brasil
Autor: Alda do Amaral Rocha e Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2006, Agronegócios, p. B12

Crise sanitária País pode ser favorecido no curto prazo, mas foco mostra fragilidade na América do Sul

A confirmação ontem de um foco de febre aftosa na localidade de San Luís del Palmar, na província argentina de Corrientes, pode acelerar a suspensão do embargo à carne brasileira por parte de países importadores, afirmam analistas do setor. O reaparecimento da enfermidade no Brasil, há quatro meses, fez a Argentina ganhar mercado em países que suspenderam as compras de carne brasileira, como a Rússia. Ao todo, 56 países suspenderam total ou parcialmente as compras do produto. Agora, que a doença também ressurgiu na Argentina, a expectativa é de que importadores suspendam as compras do país - ontem, Chile e Uruguai já impuseram embargos. Isso significa menor oferta de carne no mercado internacional e, portanto, maior necessidade da carne brasileira. "Quando houve foco no Brasil, o Chile parou de comprar aqui e passou a comprar na Argentina. A União Européia também aumentou as compras no mercado argentino", disse Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. Esse novo cenário, porém, pode acelerar o fim do embargo à carne brasileira, avalia. Jerry O'Callaghan, diretor da unidade de carnes da Coimex, acredita que a Rússia também deverá rever sua posição sobre o embargo. "Cerca de 70% do que a Rússia importa em carne é proveniente do Brasil e da Argentina", afirma, destacando a forte dependência dos russos dos dois mercados. Com o embargo ao Brasil, a Rússia também ampliou as importações da Argentina. Mas após o foco na Argentina, a expectativa do governo local é de que a Rússia também suspenda as compras do país. Para Antônio Camardelli, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), "alguns países terão mais celeridade ao examinar as garantias dadas pelo Brasil" em relação ao controle da aftosa. O executivo se referia à recente missão de técnicos europeus que visitou as regiões que tiveram focos de aftosa no Brasil, no Mato Grosso do Sul e Paraná. Fabiano Tito Rosa, pondera, no entanto, que tudo vai depender de como os países importadores vão reagir à notícia de foco na Argentina e com que rapidez o país responderá ao problema. A análise é pertinente já que foi a demora de confirmação do foco no Paraná um dos fatores que mais incomodou os importadores. "Rapidez dá credibilidade", concorda José Vicente Ferraz, do Instituto FNP. Ainda que possa ter um aspecto positivo para as exportações brasileiras no curto prazo, analistas são unânimes em dizer que o surgimento do foco de aftosa na Argentina prejudica todos os países da América do Sul. "É lamentável o que aconteceu porque mostra a fragilidade do continente", afirma Camardelli. Para ele, o caso mostra a necessidade de reforçar os controles na zona de fronteira. Assim como no primeiro foco brasileiro, descoberto em outubro, o foco argentino também surgiu numa região de fronteira com o Paraguai. Para Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (exportadores de carne suína), a volta da doença reforça que não se pode falhar na vigilância. "O Mercosul não pode querer ser o maior exportador do mundo sem resolver o problema da aftosa", disparou. A expectativa de que o embargo à carne brasileira caia mais cedo após o foco na Argentina também pode sustentar os preços do boi no mercado interno. Segundo Ferraz, pode haver pressão de alta pois os pecuaristas tendem a segurar bois à espera dos desdobramentos. O foco descoberto na Argentina está numa província que faz fronteira com o Rio Grande do Sul, por isso o Ministério da Agricultura decidiu suspender ontem as compras de animais vivos, carne bovina e derivados de Corrientes. O ministério determinou às superintendências estaduais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul reforço na vigilância nas fronteiras. Estão em alerta máximo os postos de fronteira de Uruguaiana, Itaqui, São Borja e Porto Xavier, além de Barra do Quaraí. Em outubro de 2005, a Argentina adotou medidas duras para barrar produtos brasileiros por causa da aftosa. Em janeiro, retomou as compras de carne suína de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para reduzir essas disputas de fronteira nas emergências sanitárias, a Secretaria de Defesa Agropecuária assinou o primeiro acordo bilateral com o Paraguai. O objetivo é implantar um minucioso sistema de gestão de controle na faixa de fronteira do Brasil. Serão cadastradas as fazendas e os rebanhos num raio de 25 km de ambos os lados da fronteira, além da convergência dos critérios de fiscalização, prevenção e controle da aftosa. O acordo também será firmado com Bolívia e Peru. .