Título: Economista alerta para risco em caso de crise
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2006, Finanças, p. C1

O fim da cobertura cambial para as exportações, proposta no artigo 3º do projeto, vai aumentar a vulnerabilidade externa do país às crises cambiais, alerta o economista João Sicsú, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ao fazer uma apreciação do projeto, Sicsú destaca que, se aprovado tal como está, o que vai acontecer é que os exportadores vão passar a vender os dólares obtidos nas vendas externas no mercado nacional com a mesma motivação dos especuladores, ou seja, de ter maiores ganhos, já que não serão mais obrigados a convertê-los em real no mercado nacional. "Sem a obrigação da conversão , eles (os exportadores) vão trazer seus dólares para cá quando acharem que vão ganhar dinheiro, como agora, com o juro alto, fazendo arbitragem", destacou Sicsú. Ele alerta que, em caso de crise cambial, a situação poderá se agravar com a liberalização total do câmbio, pois o Brasil não contará mais com a oferta de dólares dos exportadores para se contrapor a fuga de capitais dos especuladores. "No caso de uma fuga de capitais dos especuladores e financistas, os exportadores não serão mais obrigados a irrigar de dólares o mercado de cambio nacional, pois estarão do lado do ataque especulativo. A saída do BC será, então, ou queimar reservas ou elevar de forma brutal a taxa de juros para atrair capitais ou pedir novos empréstimos ao FMI", disse Sicsú. No seu entender, o projeto potencializa a crise cambial, pois reduz a possibilidade de o BC formar reservas, mantém livre a mão que manda recursos para fora e libera a mão que era obrigada a trazer dólares para dentro. "A liberalização financeira será do lado da demanda e do lado da oferta de dólares, aumentando a vulnerabilidade externa do Brasil." A seu ver, o projeto não terá nenhum impacto sobre a apreciação cambial, pois ela vai continuar. "O que atrai o investidor que converte dólar em real é a taxa de juro que o real paga."