Título: Em nova pesquisa, Lula vence nos dois turnos e melhora avaliação
Autor: Cristiano Romero e Rosângela Bittar
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2006, Política, p. A5
O Palácio do Planalto está eufórico com pesquisas recebidas ontem que mostram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuperou a popularidade, a ponto de voltar a ter condições de vencer a eleição de outubro. Pesquisa feita entre os dias 25 e 28 de janeiro pelo Instituto Ipsos para dois partidos políticos mostra que, no segundo turno do pleito, Lula bateria seus dois principais concorrentes do PSDB. Segundo a pesquisa, se a eleição acontecesse hoje e o candidato tucano fosse o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o presidente ganharia a disputa com uma diferença folgada: 20 pontos percentuais. Na pesquisa anterior, realizada em dezembro, a diferença em favor de Lula era de apenas sete pontos. Na mesma enquete, se o adversário fosse o prefeito de São Paulo, José Serra, a vitória de Lula seria apertada: por uma dianteira de apenas quatro pontos percentuais. Em dezembro, o quadro captado era inteiramente distinto. O presidente perderia a eleição no segundo turno para Serra por uma diferença de 14 pontos percentuais. A pesquisa Ipsos, que não foi registrada, circulou ontem no Congresso Nacional. Mostra a recuperação da popularidade de Lula pelo segundo mês consecutivo. Um dado adicional fez os aliados do presidente a apostarem que ele, enfim, se tornou um candidato competitivo à reeleição: a melhora da imagem de Lula foi mais acentuada em janeiro do que em dezembro, o que indicaria uma recuperação contínua de sua popularidade. Tanto a avaliação do governo quanto da pessoa do presidente melhoraram no mês passado, embora seu nível de rejeição, entre seis candidatos, seja o quarto maior na pesquisa feita pelo Ipsos. Serra, seu principal adversário até o momento, tem o menor índice de rejeição. Com índices de desaprovação superiores aos de Lula, estão o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, líder de rejeição, a senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL) e o ex-governador Anthony Garotinho. A pesquisa mostra que os indicadores de consumo e de confiança do consumidor cresceram em janeiro, bem como os de percepção referentes ao poder de compra. A avaliação da área social do governo também melhorou. É justamente o desempenho tanto dos indicadores sociais quanto econômicos que assessores e políticos ligados a Lula atribuem a recuperação neste início de ano. As outras razões são as inaugurações de obras e os sucessivos anúncios de medidas populares, como a fixação do salário mínimo com o maior poder de compra dos últimos 40 anos, a recente liberação de um pacote generoso de subsídios para a compra da casa própria e a correção da tabela do Imposto de Renda. A notícia dando conta de que o Bolsa Família está diminuindo a desigualdade social também é apontada pelos petistas como um dos fatores que estão contribuindo para melhorar a imagem de Lula. O presidente está seguindo à risca um roteiro de ações para se viabilizar como candidato competitivo em outubro. Esse roteiro inclui inaugurações, viagens e anúncios de pacotes. É por essa razão que ele está postergando o anúncio oficial de sua candidatura. Se o fizesse agora, seria acusado pelos adversários de usar a máquina estatal para fazer campanha. Correria ainda o risco de sofrer censura por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Lula só decidirá sua candidatura oficialmente aos 44 minutos do segundo tempo. Sem que ele seja candidato, o PSDB já questiona suas ações", justifica um parlamentar muito próximo do presidente. Além dos atos típicos de campanha, Lula está articulando pessoalmente os contatos políticos com os presidentes dos partidos aliados. Na semana passada, ele se reuniu demoradamente com dirigentes do PSB, PCdoB e PT. Mais adiante, fará o mesmo com os do PTB, PP e PL, três partidos que se envolveram no esquema do valerioduto, mas que ele não abre mão de ter em sua coligação. Na noite de segunda-feira, ele participará, em Brasília, do jantar de comemoração dos 26 anos do PT. As articulações de Lula vão além dos políticos. Nos próximos dias, ele vai se reunir com empresários pesos pesados para estimulá-los a investir na economia. O presidente trabalha de forma acelerada porque, segundo um aliado, ele sabe dos riscos que encontrará pela frente. Um deles é o seu partido, que poderá descumprir acordos políticos e, assim, dificultar a formação de alianças regionais. Mais uma vez, o PT insiste em lançar candidatos próprios em praticamente todos os Estados. O outro risco diz respeito à economia. Preocupado com o rumo das eleições, o setor produtivo tende a paralisar os investimentos depois da Copa do Mundo, em junho, quando os candidatos entrarão em campanha aberta. "Lula tem baixo controle sobre essas duas coisas. O PT, por exemplo, deu apenas 14 votos ao fim da verticalização, uma decisão que beneficia diretamente a reeleição do presidente", disse um aliado.