Título: PT só consegue evitar disputa interna em três Estados
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2006, Política, p. A8

A direção nacional do PT trabalha para evitar disputas regionais na legenda com a realização de prévias nos Estados. O embate em São Paulo, no entanto, parece inevitável entre o senador Aloizio Mercadante e a ex-prefeita Marta Suplicy. A prévia já está marcada para o dia 7 de maio. A única forma de evitar a disputa seria uma intervenção direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma possibilidade estudada na cúpula do PT é o presidente convidar um ou outro para o ministério. Lula será obrigado a fazer uma reforma com a desincompatibilização dos ministros que vão concorrer às eleições. Em pelo menos três Estados, o PT conseguiu tomar decisões consensuais: em Pernambuco, o candidato ao governo será o ex-ministro Humberto Costa; no Paraná, o senador Flávio Arns; no Rio Grande do Sul será o ex-ministro Olívio Dutra. "Há uma consciência no PT de que quando se faz uma prévia acirrada isso leva o partido a desgastes locais. Há sempre um risco", disse o presidente nacional da legenda, deputado Ricardo Berzoini (SP). Segundo o petista, como os dois pré-candidatos ao governo de São Paulo são figuras fortes, com legitimidade para a disputa e bastante conhecidas do eleitorado fica difícil inibir a prévia. "Não é fácil resolver, mas especialmente em São Paulo é fundamental mantermos o alto nível do debate", alertou Ricardo Berzoini. Até o momento, segundo Mercadante, o cenário mais provável é a realização da prévia. Segundo ele, a convivência com a prefeita é pacífica e amistosa. "Temos um pacto de unidade partidária sempre presente", assegura. "Ninguém ouvirá de mim uma única crítica ao Mercadante porque isso se voltaria contra nós na disputa de outubro", diz Marta. O senador gostaria, no entanto, que a disputa fosse antecipada. Ele descarta, com veemência, que poderia ocupar a Fazenda caso o ministro Antonio Palocci deixe o cargo para coordenar a campanha de Lula à reeleição. "Não há hipótese de isso ocorrer. Não embarque nisso", afirmou Mercadante ao Valor. Os políticos mais próximos a Palocci garantem que se o ministro for compelido a deixar o cargo para coordenar a campanha isso só ocorrerá em junho. O substituto de Palocci seria o atual secretário-executivo, Murilo Portugal. Marta e Mercadante estão trabalhando intensamente pelas respectivas candidaturas. O senador tem a preferência da cúpula partidária, mas Marta é considerada mais forte entre eleitores das prévias. Esta semana a prefeita recebeu uma carta do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, oficializando seu apoio. Já Mercadante tem o apoio da maioria dos ministros petistas. Cerca de 190 mil filiados do PT vão votar na prévia paulista. Pesquisas de intenção de voto também devem balizar a escolha petista. O partido pretende contratar sondagens a partir deste mês. Marta tem popularidade alta na capital entre as classes D e E. A desvantagem é a derrota sofrida para José Serra em 2004, que expôs alto índice de rejeição da ex-prefeita. Já Mercadante entra para a disputa com o trunfo de ter sido eleito com 10 milhões de votos para o Senado, apesar de vários políticos alertarem que a disputa estadual tem variáveis completamente distintas.