Título: Planalto busca apoio de PTB, PP e PL
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2006, Política, p. A8

Eleições De volta da África, Lula vai procurar as legendas para saber com quem pode contar para a reeleição

No retorno da viagem à África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai conversar com PTB, PP e PL. Disposto a saber com quem poderá contar nas eleições de outubro, o presidente vai procurar as três legendas, conhecidas como as principais do mensalão. "Essa conversa, por enquanto, não será definitiva. O presidente vai apresentar o projeto e ver com quem poderá contar, sem pressionar ninguém", confirmou o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner. Por enquanto, as conversas têm sido conduzidas pelo próprio Wagner e pelo presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). O presidente do PT confirmou que o diálogo se intensificará a partir de março, quando o Congresso retomará suas atividades a todo vapor. "Será o momento mais adequado, pois a atividade política começará a ficar mais intensa", reconheceu o petista. Apesar disso, ele reuniu-se ontem com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento e com o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO). "O presidente Lula já vem conversando com quem está no governo, com os ministros dos diversos partidos. Mas as conversas institucionais ainda vão começar", acrescentou Berzoini. Wagner deixou claro que o presidente Lula não vai constranger os aliados em busca de apoio. Segundo o ministro, o presidente vai deixar bem claro que cada legenda está livre para analisar as suas situações estaduais, as alianças regionais. "Precisamos sondar o que os partidos querem", tem dito Lula aos seus interlocutores. Segundo assessores palacianos, Lula quer evitar complicações para não impedir apoios futuros, ainda que apenas no segundo turno. O timing destas conversas também é decisivo para o anúncio oficial da candidatura de Lula. Um petista próximo ao presidente confirmou que chegou a haver uma reunião, com a presença da cúpula do PT e de integrantes do governo, para votar quando Lula deveria confirmar a sua candidatura à reeleição. "Se eu anunciar agora, engesso o governo. Eu vou colher o que plantei e ninguém vai me impedir de viajar pelo Brasil e falar com o povo", teria dito o presidente, fechando questão. "Suponhamos que ele anuncie agora a sua candidatura. Não vai adiantar nada, porque vão querer ficar sabendo quem é o vice. O presidente vai respeitar as realidades regionais de cada legenda antes de fechar essa equação", confirmou o ministro Jaques. Líder do PL na Câmara e um dos interlocutores da legenda com o Planalto, o deputado Sandro Mabel (GO) confirmou que não existe nenhum constrangimento de seu partido em retomar uma aliança com o PT, apesar de não ter a mesma condição de 2002, quando indicou o vice-presidente José Alencar para a chapa presidencial. "Nosso interesse é aumentar a bancada federal e estadual, continuar influenciando nas políticas de governo e prosseguir com nosso trabalho no setor de infra-estrutura", enumerou Mabel, dizendo que está "subentendido que interessa ao PL a permanência no comando do Ministério dos Transportes". O líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE), considerou muito cedo para discutir com o governo uma aliança em outubro. "Não estamos com pressa, até porque o governo está empenhado, verdadeiramente, em atrair o PMDB", ironizou Múcio. O secretário-geral do PTB, Luiz Antônio Fleury Filho (SP) foi além: "Se interessa ao PT o nosso apoio, eles devem nos procurar. Não vamos nos oferecer", resumiu. "Se dermos um passo além, vai surgir a ala radical do PT para nos chamar de fisiológicos. Não queremos isso de novo", justificou. No PP, a situação ainda é mais complicada, já que a legenda está acéfala: o líder José Janene (PR) e o presidente Pedro Corrêa (PE) estão lutando para manter os mandatos, sob o peso da acusação de envolvimento com o mensalão. "Enquanto eles não resolverem essa questão, o partido não tem capacidade de pensar nada mais alto", confirmou um parlamentar da legenda.