Título: CPI quer que Márcio Thomaz explique investigação da lista
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2006, Política, p. A10

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, passou a ser o principal alvo de ataques da oposição no Congresso. PSDB e PFL insistiram ontem em convocar o ministro a depor na CPI Mista dos Correios e fornecer dados sobre a investigação da chamada lista de Furnas, um suposto documento que apontaria doações ilegais de campanhas eleitorais em 2002. O debate inviabilizou a conclusão de votações de requerimentos na CPI e uma nova sessão administrativa foi marcada para a próxima terça-feira. A oposição ameaça convocar Thomaz Bastos na CPI dos Bingos, onde seria mais fácil conseguir os votos necessários à aprovação. Segundo dirigentes tucanos e pefelistas, somente uma declaração pública do ministro sobre a lista poderia apaziguar o ambiente político. O governo reagiu à ofensiva da oposição e não aceita a convocação do ministro na CPI. Os governistas consideram a acusação a Thomaz Bastos um novo "factóide" oposicionista. "Como é que o ministro vai antecipar um veredito se a investigação não foi concluída?", rebateu um interlocutor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram aprovados na CPI dos Correios ontem os requerimentos de convocação do publicitário Duda Mendonça e do ex-presidente de Furnas Dimas Toledo, apontado como suposto autor da lista de Furnas. Toledo nega as acusações. Ele deve prestar depoimento na quarta-feira. O depoimento de Duda Mendonça, se for de fato colhido, só será marcado para depois do carnaval. A CPI aguarda informações sigilosas da Justiça norte-americana sobre movimentações financeiras de Duda no exterior. Os dois principais partidos de oposição decidiram barrar algumas votações estratégias em comissões no Senado até que Thomaz Bastos seja mais explícito sobre a lista de Furnas. Na suposta lista há nomes de políticos expoentes do PSDB e PFL. A Polícia Federal está investigando a veracidade da lista. Em conversas reservadas, inclusive com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que estaria citado na suposta lista, o ministro admitiu não crer na veracidade do documento. Para a oposição, o PT tem responsabilidade na divulgação da lista e o ministro está agindo politicamente. "Ele (Thomaz Bastos) está se apequenando", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "Ou o ministro vem à CPI dos Correios por bem, ou virá por mal na outra CPI. Por isso que a CPI dos Bingos é a CPI do Fim do Mundo, porque precisa corrigir as omissões da outra comissão", afirmou Virgílio, citando o apelido dado à CPI dos Bingos por sua explícita atuação política. Segundo o tucano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabe que a lista é falsa. "Caso contrário, já teria tomado alguma atitude, porque o ministro do governo dele, Hélio Costa (Comunicações), está citado na tal lista", disse o líder do PSDB. O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmou que está "lutando" para que a briga política interna não prejudique a CPI. Ele considera que ontem as votações de requerimentos foram claramente prejudicadas. "Poderíamos ter votado vários requerimentos. Há alguns pendentes há meses", ponderou o relator. "Como se trata de uma briga política, de repente um pronunciamento do ministro poderá esclarecer tudo", opinou Osmar Serraglio. Em nota, a Executiva Nacional do PFL classifica a lista de Furnas de uma "fraude grosseira para atingir parlamentares da oposição" que estaria sendo divulgada de forma desonesta na internet por meio de sites ligados ao PT ou de orientação petista. "O PFL não aceita, igualmente, a atitude leniente de autoridades a quem cabe definir se a lista é falsa ou verdadeira. Com a palavra, o sr, ministro", diz o trecho final da nota.