Título: América Latina deve manter forte expansão; Brasil e México destoam
Autor: Rodrigo Uchôa
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2006, Internacional, p. A11

Conjuntura Projeções indicam terceiro ano seguido de crescimento da região acima de 4%

A América Latina deve ter em 2006 o quarto ano consecutivo de crescimento, porém seus dois países mais importantes continuarão para trás em relação aos demais. A região como um todo deve crescer 4,1% este ano, o terceiro seguido de expansão forte, acima de 4%. Mas, das sete maiores economias latino-americanas, só o Brasil (com estimativa em torno de 3,5%) e o México (entre 3,2% e 3,7%) ficarão atrás dessa média, segundo recentes projeções oficias e de mercado. No ano passado, a expansão de América Latina e Caribe ficou, pela estimativa da Cepal, em 4,3%. Em 2003, atingiu 5,7%, dado distorcido porém pela recuperação anormal na Argentina e na Venezuela. Economistas dizem que Brasil e México têm razões diferentes para apresentar resultados abaixo do de seus vizinhos. Quanto ao México, o principal motivo é que o país é extremamente dependente do mercado dos EUA. Desde que aderiu ao Nafta (acordo de livre comércio com os EUA e o Canadá), em 1994, o México triplicou seu comércio com os americanos, que passou de US$ 81 bilhões em 1993 para mais de US$ 250 bilhões em 2005. Mas o país vem perdendo espaço no mercado americano principalmente para os produtos chineses. A participação mexicana no mercado americano caiu de 10,6% em 2004 foi para 10,4% em 2005 [a China, por sua vez, cresceu sua participação no mercado dos EUA, indo de 13,4% em 2004 para 14,5% em 2005]. As exportações mexicanas desaceleraram, apesar do repique de preço do petróleo - a grande commodity do país, responsável por 36% das receitas públicas. No plano interno, a renda e o consumo ficaram estagnados, apesar do aumento de crédito. A austeridade fiscal e monetária fizeram com que o país alcançasse a meta de déficit fiscal (0,2% do PIB) e amortizasse a dívida pública. Espera-se, portanto, que o crescimento da economia em 2006 se dê principalmente por causa da demanda interna, impulsionada pelo crédito farto, analisa a Cepal em seu relatório para este ano sobre a região. No caso do Brasil, economistas dizem que o principal vilão continua sendo a taxa de juros; e a principal tábua de salvação, a China. "Não há como fugir dessa análise: a política de juros emperra o crescimento de tal modo que só há crescimento por causa do novo mercado chinês", afirma Marcelo Miterhof, economista do BNDES. "Os chineses estão fazendo a toque de caixa o século XX de mais de 1 bilhão de pessoas. Com isso, criaram um mercado excepcional para os principais produtos da América Latina." Um exemplo de país que se beneficia muito com isso é o Chile, maior produtor de cobre do mundo e, portanto, maior exportador para o maior mercado de cobre mundial, justamente a China. Mesmo assim, a desaceleração de alguns setores e uma liquidez monetária menor levam os especialistas a esperar um crescimento menor do país em 2006. E, se a alta dos preços do petróleo se mantiver, a liberdade da nova presidente Michelle Bachelet para flexibilizar a política monetária deve ser pequena, pois o governo está comprometido em manter a meta de inflação entre 2% e 4% anuais. Dois outros países que se beneficiam de políticas fiscais austeras são o Peru e a Colômbia - os dois estão melhor do que o Brasil no rating da Standard & Poor's, uma das classificações que balizam os investidores internacionais. O ministro da Produção do Peru, David Lemor, diz que o crescimento de 2005 foi o melhor em 30 anos, mas adverte que, para que ele se consolide, o país "tem de crescer a um ritmo de 9%". Já a Colômbia se destaca pela recuperação da demanda interna desde a posse na Presidência de Álvaro Uribe, em 2002. Na análise da Cepal, a economia colombiana está crescendo impulsionada pelo "comportamento da demanda interna, tanto em investimento quanto pela marcada recuperação do consumo". O governo colombiano diz que os investimentos no país devem crescer quase 20% em 2006. A Colômbia vem mantendo baixas taxas de juros e aumentando a liquidez da economia. "Havia lá uma particularidade da situação política: a demanda estava comprimida por causa guerra civil. Agora as pessoas já pensam em entrar para a economia formal, em investir", conclui Miterhof.