Título: Adobe embala nova geração de produtos
Autor: Sarah Lacy BusinessWeek
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2006, Empresas &, p. B2

Software Depois de superar os desafios da fusão com a Macromedia, chegou a hora de combinar as tecnologias

Um ano atrás, Stephen A. Elop tinha acabado de assumir o cargo de principal executivo da Macromedia e preparava-se para um dos mais decisivos - e sigilosos - jantares de negócio de sua vida. Ele seguia apreensivo, ao dirigir pela auto-estrada 101, de San Francisco, um paraíso dos gourmets, para um restaurante italiano de quinta categoria na cidade de San Jose - um lugar em que, diz ele hoje, não voltaria nem morto. "Não era o Olive Garden, e ninguém estava cantando 'parabéns a você' na mesa ao lado, mas nós tínhamos de ir a algum lugar onde não fôssemos vistos juntos", diz ele. O alvo da sedução? Bruce R. Chizen, principal executivo da Adobe Systems. Poucos meses depois de iniciar o namoro, eles decidiram - em 18 de abril de 2005 - unir suas empresas. A união foi sacramentada em 3 de dezembro, num casamento de US$ 3,4 bilhões - um dos maiores no reino do software, uma área em rápida consolidação. Mesmo antes de encontrar-se com Chizen, Elop sabia que uma fusão fazia sentido do ponto de vista estratégico. A maior parte do faturamento das duas companhias vem da venda de software para profissionais de criação. Os produtos - em ambos os casos amplamente usados em computadores pessoais em todo o mundo - eram complementares. Em termos de linhas de produto, as duas empresas podiam ser vistas mais como gêmeas separadas ao nascer do que como concorrentes. A Adobe, pioneira no formato de arquivo PDF, estava mais envolvida com documentos, enquanto a Macromedia concentrava-se no mundo em rápido crescimento de web design e de conteúdo móvel. Alem disso, o histórico de Chizen falava por si. Desde que assumiu o comando da Adobe em 2000, ele estabeleceu uma incessante e profissional fábrica de lucros: as receitas deram um salto de aproximadamente 70%, para US$ 2 bilhões, e as ações da companhia registram alta de quase 40%, colocando a Adobe na 28ª posição na classificação, pela "BusinessWeek", das 50 empresas de melhor desempenho. Culturalmente, porém, as companhias não podiam ser mais distintas. A sede da Macromedia ocupa um belo e amplo espaço arquitetônico em San Francisco. A Adobe habita duas torres em San Jose que, brincam alguns funcionários da Macromedia, "parece um banco". A criatividade era cultuada na Macromedia, mas seu ritmo frenético resultava em muito trabalho noite adentro. Os executivos da Adobe tinham, talvez, menos momentos de animação criadora, mas jantavam mais freqüentemente em casa com suas famílias. Após o anúncio da fusão, as conversas perto da máquina de café na Macromedia ganharam um tom de ansiedade. Muitos funcionários temiam que a cultura ímpar de sua companhia fosse arrasada. "A gente costumava ironizar o (produto concorrente da Adobe) GoLive", lembra Erik Larson, diretor de gerência de produto de diversos produtos Macromedia. "Nós sempre dizíamos: 'Ah, eles não sacaram nada'" (GoLive pode ser também entendido como "Vá Viver"). Mas no período que se seguiu imediatamente à fusão, Chizen recompensou alguns executivos que eram da Macromedia - colocando-os em postos centrais -, como parte de um esforço para insuflar na nova companhia um pouco da criatividade da Macromedia. "Uma das coisas que buscávamos na Macromedia era seu formidável espírito empresarial", diz Chizen. "Queríamos injetar um pouco disso na Adobe." Desde o início, Chizen empenhou-se a fundo para reduzir quaisquer temores que Elop pudesse ter quanto à fusão. Naquele jantar italiano em San Jose, ele explicou detalhadamente porque queria comprar a Macromedia - e não era apenas por causa da tecnologia de animação Flash. Em apenas seis semanas desde que a fusão foi efetivada, ele fez mais do que qualquer um esperava. Chizen não apenas manteve a sede da Macromedia - hoje denominada "Adobe San Francisco" - como instalou uma escritório para ele mesmo no lugar. Hoje, divide seu tempo entre as duas sedes. Além disso, cerca de metade dos 700 funcionários que foram despedidos eram da Adobe. O mais surpreendente e tranqüilizador, para o pessoal da Macromedia, foram as nomeações para os cargos executivos: Elop assumiu o comando de toda a organização mundial de vendas. O ex-chefe de arquitetura de software da Macromedia, Kevin Lynch, assumiu uma função similar na Adobe, cobrindo os produtos Acrobat Reader e Flash Player. E os executivos da Macromedia foram nomeados para o comando das três unidades em mais rápido crescimento da Adobe: Acrobat, software empresarial e aplicativos móveis.

Plano é casar a linguagem HTML, da web, com a tecnologia Flash e o software Adobe Reader

De repente, foi o pessoal da Adobe que começou a ficar nervoso - a Macromedia é que parecia ter se apropriado da Adobe. "Eu acho que foi um choque para os funcionários da Adobe e deixou inquietos muitos deles, (mas) sou pago para assegurar que a Adobe goze de boa saúde futura", diz Chizen. Mesmo gente não pertencente a nenhuma da duas empresas notou a mudança. Carl Bass, executivo da Autodesk, uma empresa de software usado em projetos de engenharia e arquitetura localizada ao norte de San Francisco, diz que os currículos que ele recebe passaram a ser, em sua maioria, não mais de funcionários da Macromedia, mas de pessoal preocupado da Adobe. "Isso foi inteiramente inesperado", diz ele. Tornando as mudanças mais pronunciadas, diversos executivos da Adobe deixaram voluntariamente a empresa desde o fechamento do negócio, entre eles o principal executivo financeiro, Murray J. Demo. Chizen espera ver em breve os frutos das difíceis escolhas que fez. Em 31 de janeiro, a Adobe apresentou a analistas uma estratégia denominada "the engagement platform" - casando o HTML (uma linguagem de programação para a web), o Adobe Reader e o Flash Player, da Macromedia. Com a unificação, alguém que quisesse reservar um vôo pela internet, poderia, numa mesma tela, conversar com atendentes de companhias de viagens sobre as opções de vôos e, ao mesmo, tempo ver miniaturas da agenda de reuniões de colegas de trabalho num calendário. Usando o Acrobat, o usuário poderia, então, imprimir itinerários bem formatados - inclusive com um código de barras -, capazes de ser lidos por scanners no balcão de uma companhia aérea ou de uma locadora de automóveis. Com um clique do mouse, o usuário poderia até mesmo enviar informações de viagem para os telefones dos colegas. Isso tudo depende apenas de tecnologia já existente. Uma equipe de desenvolvedores da Adobe e da Macromedia já iniciou um projeto inovador para criar uma nova versão do Reader. Em vez de apenas permitir que as pessoas leiam documentos ou preencham formulários, o novo Reader rodará aplicativos interativos de mídia (texto, imagem, áudio e vídeo) para a web graças à combinação do Reader e do Flash. O objetivo será torná-los residentes na maioria dos computadores, assim como hoje já ocorre com o Reader e com o Flash Player. O negócio é arrancar mais faturamento e lucro da ubiqüidade alcançada pelas duas tecnologias. Os planos prevêem conquistar o mesmo predomínio em telefones celulares e aparelhos eletroeletrônicos de consumo. Acordos de negócios já foram anunciados com a Nokia, a Samsung e a LG, e a Adobe também já fechou acordos com todos os seis maiores fabricantes de celulares no mundo. Neste trimestre, 66 milhões de telefones poderão exibir conteúdo produzido em Flash, ou seja, um salto de 50% em relação ao trimestre anterior. Se Chizen tiver sucesso, a nova Adobe estará posicionada bem no centro de cada tendência de ponta - da Web 2.0 ao conteúdo móvel. Nada mau para uma companhia antes criticada por sua ausência da internet.