Título: Governo recompra até US$ 20 bi da dívida externa e risco-país cai 6,5%
Autor: Arnaldo Galvão e Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2006, Finanças, p. C1

Passivo Cambial Aquisições de papéis de curto prazo no mercado já chegam a US$ 2,3 bi no ano

O anúncio feito pelo Tesouro e o Banco Central, de que estão recomprando dívida externa antecipadamente no mercado em valores que podem chegar até a US$ 20 bilhões, fez o risco-Brasil despencar ontem 6,54%, para 246 pontos básicos, seu menor nível histórico. No ano, já foram comprados US$ 2,3 bilhões com recursos que vêm das reservas internacionais do Banco Central, o que contribuiu para a queda de 20,33% no risco-Brasil desde então. Ao comprar papéis da dívida externa, o governo amplia a procura por papéis brasileiros e ao mesmo tempo reduz a oferta, resgatando os títulos antecipadamente. Com isso, causa forte pressão de altas nos preços e de queda nos prêmios de risco, que vão no sentido inverso. O "alvo preferencial" do programa de compras é tirar de circulação os títulos com vencimento até 2010 e também os papéis da dívida reestruturada ("bradies"), segundo o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e o diretor de Política Monetária do BC, Rodrigo Azevedo. "Estamos reduzindo os vencimentos de curto prazo, o que é coerente com a nossa diretriz de alongamento da dívida. Esse é apenas mais um instrumento", explicou Levy. Azevedo ressaltou que as compras vão depender das condições do mercado. Até 31 de janeiro, o Tesouro cancelou o equivalente a US$ 773,9 milhões (R$ 1,75 bilhão) em títulos da dívida pública mobiliária federal externa. Levy fez questão de frisar que não há qualquer meta financeira para o programa de compras ou compromisso de recomprar até US$ 20 bilhões até 31 de dezembro. "Este ano está resolvido, mas o mundo não acaba em 2006. Estamos construindo bases mais seguras para 2007 e adiante", disse o secretário. Ele lembrou que, dos vencimentos previstos de US$ 11,8 bilhões em 2006 e 2007, o governo vai rolar US$ 9 bilhões. Segundo as informações de Azevedo, as reservas estão em US$ 57 bilhões e a dívida externa do governo federal está em aproximadamente US$ 87 bilhões. Os títulos comprados pelo BC são transferidos ao Tesouro e são periodicamente cancelados. A operação de recompra significa redução da dívida externa correspondente ao valor de face dos títulos resgatados, de acordo com o valor contábil registrado no momento da emissão. Segundo o governo, o maior fluxo de divisas para o Brasil, que tem engrossado as reservas internacionais, contribui para a melhora dos principais indicadores de solvência externa. A proporção do serviços da dívida pública sobre exportações e o estoque da dívida bruta externa sobre exportações foram citados. Os analistas do mercado aprovaram a recompra antecipada. Para Ricardo Amorim, estrategista para América Latina do WestLB, a recompra da dívida externa no mercado é uma forma menos arriscada de impedir uma valorização maior do real e de acabar com a dívida em dólar líquida do que os "swaps reversos", compra de dólar no mercado futuro, que o BC vem fazendo no Brasil. Segundo ele, os "swaps reversos" envolvem um grande risco de descasamento de prazos - o governo fica ativo em dólar no curto prazo, pois os "swaps" têm vencimento em três ou quatro anos, e passivo em dólar no longo prazo, pois sua dívida externa chega a ter vencimentos em até 40 anos. "Esse descasamento de prazos envolve um risco", diz. A dívida interna indexada ao câmbio já foi totalmente anulada pelos "swaps reversos" e, com o movimento de compra antecipada, a dívida líquida total em dólar deve acabar mais rapidamente, estima. Para o diretor da Anbid, Associação Nacional dos Bancos de Investimento, Pedro Guerra, a recompra antecipada da dívida externa é coerente com o objetivo do Tesouro, de trazer o mercado de dívida pública para dentro do Brasil. "É uma boa notícia, que junto com a isenção do Imposto de Renda para o estrangeiro que vier ao Brasil ajuda no esforço de ampliar nosso mercado interno de capitais", disse. "O governo está dizendo para o investidor: 'se você quer comprar Brasil, venha ao nosso mercado interno e alongue o prazo de nossa dívida interna em reais", afirmou.