Título: VOZ AO MORRO
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2006, OPINIÃO, p. 6

Aprópria dificuldade em conceituar demonstra a complexidade do tema: favela, para os que nela moram, tem outro nome ¿ comunidade. Só isso já indica o grau de complexidade de se fazer uma abordagem. De que lado está quem fala? Portanto, é arriscado se afirmar que ¿ninguém mora em favela porque gosta¿. Também não se aponte como solução a ¿abertura de possibilidade de moradia nos extremos menos densamente povoados da região oeste¿. Os moradores da Zona Oeste estão cansados desse discurso. É ponto de vista de quem se sente incomodado com a favela, e quer mandá-la para longe. Com ele, degradaram-se áreas verdes com amontoados de prédios impessoais, verdadeiros pombais, ou casas toscas (Antares, Cesarão, João 23, Nova Sepetiba, por exemplo), sem que o mínimo de infra-estrutura lhes fosse oferecido. O Censo do IBGE e os dados do Instituto Pereira Passos trazem uma surpresa: a população carioca tende a estabilizar-se em torno de 6 milhões de habitantes, até o ano 2010. Mesmo as favelas, onde a natalidade é maior, acompanham essa tendência. Se confirmada, a desaceleração demográfica dá uma trégua ao poder público. Que será de pouca valia, se não for aproveitada para um enfrentamento rápido e consciente dos problemas habitacionais. E a solução desse desafio não pára no asfalto. Exige que se dê voz e vez ao morro, como no samba de Tom e Vinicius. A prefeitura tem implementado bons programas, como o Favela-Bairro, organizando as ruas, permitindo a coleta de lixo e a implantação do saneamento básico. As ações de reflorestamento já promoveram o plantio de mais de 4 milhões de árvores, mantendo o nível de cobertura vegetal da cidade e desestimulando novas invasões. No entanto, por mais eficientes que sejam os esforços municipais, o problema é nacional e depende de políticas públicas de âmbito federal.