Título: Exportações sentirão o baque
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Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2010, Economia, p. 12

Problemas na Europa devem prejudicar vendas brasileiras num prazo de 30 a 60 dias

O agravamento da crise na Europa deve prejudicar as exportações brasileiras, admitiu ontem o ministro interino do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral. De acordo com suas projeções, o impacto negativo vai ocorrer num prazo de 30 a 60 dias. Ele evitou especular sobre o volume de queda nas vendas externas do país. Em participação no 22º Fórum Nacional, seminário promovido pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, no Rio de Janeiro, Barral defendeu intervenções do Banco Central (BC) no mercado de moedas para evitar oscilações nas cotações, o que afetaria ainda mais o desempenho comercial.

¿O efeito da crise tem um impacto muito grande, principalmente na confiabilidade de negócios e de garantias. Evidentemente, ela ainda está centrada em alguns países europeus. Não houve alastramento pelos principais importadores do Brasil na região, que são Alemanha e Holanda. Esperamos que haja um efeito em 30 a 60 dias, mas que estará relacionado com a expectativa e com a credibilidade dos mercados¿, disse Barral. Ele é secretário de Comércio Exterior e responde pelo ministério enquanto o ministro Miguel Jorge estiver em viagem à Espanha, acompanhando as negociações para um acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia.

Se a previsão se confirmar, o ministério terá que reduzir a meta de exportações de US$ 168 bilhões neste ano. Além da crise na Europa, o governo também está apreensivo com o fato de o Brasil não ter se beneficiado, até agora, da retomada da economia norte-americana. Em vez de acompanhar o crescimento econômico do país, o ritmo de expansão dos embarques de produtos para os EUA estacionou em 20%. ¿A manutenção dos níveis de exportação para os Estados Unidos é preocupante porque, afinal de contas, eles tiveram uma recuperação neste último ano e nós não conseguimos aumentar o market share (participação de mercado) para produtos manufaturados¿, disse.

Câmbio Na avaliação do ministro interino, não existe um nível ideal para a cotação do dólar, mas é preciso prestar atenção na competição com nações que têm insistido em manter a moeda local artificialmente desvalorizada, como a China. ¿O câmbio está afetando as exportações brasileiras para alguns mercados tradicionais, como é o caso da América Latina e da África, onde estamos concorrendo muito acirradamente com outros países. O grande problema não é o câmbio que temos hoje, mas administração do câmbio por alguns concorrentes do Brasil¿, disse. Para ele, oscilações muito bruscas são mais prejudiciais que um dólar deprimido.

¿É o custo da imprevisibilidade¿, disse. Barral afirmou que o Brasil tem sido o país emergente que mais reclama na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o protecionismo. Para ele, o ideal seria a assinatura de acordos de livre-comércio, mas as negociações têm esbarrado nas resistências de concorrentes em abrir espaço para a entrada dos produtos agrícolas brasileiros. O ministro ressaltou as medidas para incentivar as exportações, como a suspensão de impostos e o seguro de crédito

NOVAS REGRAS » As bolsas de valores dos Estados Unidos vão implantar novos controles de operações, conhecidos como circuit breakers, para evitar o derretimento do valor das ações de grandes empresas. Os órgãos reguladores do mercado estão agindo para evitar a repetição do tombo em Wall Street em 6 de maio, quando um suposto erro de um operador fez o índice Dow Jones despencar 9,2% em apenas 20 minutos. As medidas serão adotadas num programa-piloto de seis meses a partir de 14 de junho. Segundo técnicos que trabalham na formulação, a ideia é interromper todos os negócios quando ações individuais tiverem valorização ou desvalorização de 10% em cinco minutos. As novas regras devem ser anunciadas na semana que vem.

Dólar sobe para R$ 1,82

A aversão ao risco voltou a assombrar os mercados em um dia que, inicialmente, parecia retornar à tranquilidade ¿ que durou pouco. Uma gama de más notícias vindas da Europa e dos Estados Unidos levou os investidores a uma procura desenfreada por proteção. Como consequência, o dólar encerrou as negociações de ontem com alta de 0,22%, cotado a R$ 1,820.

Pela manhã, a moeda americana chegou a cair 1,33%, valendo R$ 1,791. Mas inverteu a tendência, depois que a Alemanha anunciou duras medidas de regulação do mercado financeiro, para conter o derretimento do euro e aplacar os custos da crise de confiança em relação às dívidas dos países da Zona do Euro. O Banco Central brasileiro também contribuiu para a alta, ao intervir no mercado retirando o excesso de dólares.

¿De início, o repasse de 14,5 bilhões de euros à Grécia, da parcela do pacote de ajuda da União Europeia, deu ânimo aos investidores. Mas, depois, a irresponsabilidade fiscal da Europa e o indeciso futuro do euro mudaram a direção das análises¿, contou Mário Paiva, da Corretora Liquidez. A moeda única bateu ontem novo recorde negativo. Durante a sessão, chegou a valer US$ 1,216, o menor nível desde abril de 2006.

Uma das causas para esse derretimento, disse Paiva, foi o resultado do índice de expectativa econômica da Alemanha, que caiu para 45,8 pontos, bem abaixo do esperado pelos analistas, que era de 47 pontos. (VB)

Bolsa perde R$ 2,2 bilhões

Vera Batista

Depois de abrir o dia em alta, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) não resistiu à piora do humor dos mercados e entrou em processo de queda livre. No fim do dia, o Ibovespa, principal índice de lucratividade do pregão paulista, cravou perdas de 3,22%, nos 60.841 pontos ¿ o menor patamar desde 28 de outubro de 2009. No mês, a bolsa brasileira já acumula baixa de 9,90% e, no ano, de 11,29%. Desde o agravamento da crise europeia, em 27 de abril, os investidores estrangeiros já retiraram R$ 2,2 bilhões do mercado acionário brasileiro.

Segundo Sérgio Quintella, diretor da Valore Investimentos Personalizados, a BM&FBovespa acompanhou o desempenho da bolsa nova-iorquina, onde o Índice Dow Jones caiu 1,08%, influenciado pela decisão da Alemanha de proibir operações especulativas, como a venda a descoberto de títulos (os papéis não existem) na expectativa de comprá-los a preços menores mais à frente.

Para Sérgio Coutinho, sócio-presidente da YouTrade, a queda já era esperada, devido ao agravamento da turbulência europeia, e pode piorar. ¿O investidor deve se preparar, porque o Ibovespa pode chegar, em breve, aos 56.300 pontos. Não voltaremos à crise de 2008, mas chegaremos muito próximo¿, destacou.

Na Europa, com exceção da bolsa da Grécia, que caiu 0,18%, os mercados fecharam em alta. O da Espanha registrou valorização de 3,68%, a segunda maior do ano. Na Itália, os ganhos chegaram a 2,46%. França e Alemanha tiveram altas, respectivamente, de 2,08% e 1,47%.