Título: Prévia do PMDB adia embate gaúcho
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2006, Política, p. A6

A decisão do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, de pré-candidatar-se à Presidência da República pelo PMDB adiou para o fim de março a definição do cenário para a disputa ao governo do Estado. Isto porque só depois do resultado da prévia marcada para o dia 19 do mês que vem o partido irá escolher o nome para a sucessão estadual. A estratégia deixa, pelo menos em tese, espaço para Rigotto voltar atrás e disputar a reeleição, ao mesmo tempo em que o preserva de ataques dos adversários pelo menos nesta fase inicial de campanha. Ontem, Rigotto fez campanha como pré-candidato pemedebista no Recife, ao lado do governador pernambucano, Jarbas Vasconcelos. Ambos discursaram para duzentos pemedebistas reunidos na sede do partido. Na sexta-feira, Rigotto recebeu o apoio formal da direção do PMDB de Sergipe e no sábado viajou para Natal, para receber o apoio dos caciques do PMDB potiguar. O governador tem insistido que não pretende disputar a reeleição, mas, no Rio Grande do Sul, nem todos estão convencidos desta decisão. Para o ex-governador Olívio Dutra (PT), pré-candidato ao governo gaúcho, Rigotto acabará concorrendo. O raciocínio é que a pré-candidatura nacional do atual governador à Presidência é um "diversionismo" que serviria para garantir a ele visibilidade e o proteger de cobranças sobre o governo gaúcho. "Se ele (Rigotto) se candidatar à reeleição terá peso, sim", admite o deputado federal Alceu Collares (PDT), que concorrerá novamente ao cargo que ocupou de 1991 a 1994, buscará o apoio do PTB e aposta na possibilidade de tornar-se uma espécie de "terceira via" à polarização local entre PT e PMDB para decolar na campanha. Olívio, ex-ministro das Cidades que fez críticas às alianças nacionais do PT, acredita que saiu da crise com a imagem pessoal suficientemente preservada para quebrar as resistências criadas contra o PT. Mas ele também admite conversar com partidos como o PTB do ex-depurado Roberto Jefferson, que deflagrou a crise do "mensalão", e pretende comparar o desempenho da economia gaúcha no próprio governo com o período Rigotto, que o sucedeu, para tentar convencer o eleitorado de que tem o melhor projeto. Além de Olívio e Collares, outros nomes conhecidos que já se lançaram candidatos são os deputados federais Nelson Proença (PPS), Francisco Turra (PP) e Yeda Crusius (PSDB). O PTB, que é forte no Estado, mais uma vez não deve lançar candidato e já começa a ser cobiçado pelos demais partidos para a formação de alianças. O PSB do deputado federal Beto Albuquerque, aliado do PT, se movimenta em busca de outros parceiros e já conversou com o PPS, enquanto o PSOL terá candidatura própria. Na primeira pesquisa de intenção de voto para o governo gaúcho do Ibope, em meados de janeiro, Rigotto apareceu bem à frente no cenário que inclui boa parte dos prováveis candidatos dos principais partidos. Ele tem 27%, contra 10% de Olívio, 9% de Collares e 8% de Yeda, e a grande dificuldade do PMDB é encontrar um nome que possa partir de um patamar pelo menos próximo a isto. Até agora os nomes que têm sido cogitados são os deputados federais Eliseu Padilha e Cezar Schirmer e o vice-governador Antônio Hohlfeldt, recentemente egresso do PSDB, que assumirá o cargo quando Rigotto se licenciar no fim do mês para dedicar-se exclusivamente à campanha para a prévia. Na semana passada o governador chegou a mencionar também o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, como alternativa, mas no mesmo dia o próprio Jobim disse que não se candidataria a cargo algum. O PSDB terá neste ano uma candidatura própria ao governo gaúcho pela primeira vez. Nas eleições anteriores, com exceção do período Olívio Dutra, entrou com o vice nas administrações de Collares, Antônio Britto (1995-98) e agora Rigotto, antes de Hohlfeldt mudar de partido. "Este será um fato novo", afirmou Yeda. A deputada, que concorreu à prefeitura de Porto Alegre em 1996 e 2000 e foi ministra do Planejamento no governo Itamar Franco, conta com um empurrão da campanha nacional, quando o partido deverá polarizar a disputa presidencial contra o PT. Segundo ela, as negociações já estão bem adiantadas para uma aliança com o PFL no Estado, mas também há conversas com outros partidos, entre eles o PTB.(colaborou César Felício, de São Paulo)