Título: PT pressiona Lula contra alianças amplas
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2006, Política, p. A7

Eleições Jantar pelos 26 anos do partido lança movimento "queremista" pela reeleição do presidente

O PT promove hoje um jantar, na sede da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), em Brasília, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para comemorar os 26 anos do partido. À mesa, governadores da legenda, as bancadas de deputados e senadores, fundadores e nomes históricos do partido. Além do aniversário, o PT quer brindar a melhora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas e as excelentes perspectivas que o presidente passou a ter, neste momento, para a reeleição. Um petista histórico definiu o encontro do partido com Lula como um movimento "queremista". Os petistas dirão ao presidente que o querem de novo na Presidência. Mas pretendem também passar-lhe alguns recados. O principal é que, ao "queremos Lula", deve haver reciprocidade. Lula precisa também querer o PT. Embora reconheçam que Lula é maior que o PT, e em campanha eleitoral isto fica bastante claro, acreditam as lideranças do partido que é preciso lembrar ao presidente que ele é petista. E neste momento o partido está precisando dele. "Não podemos deixar Lula se descolar do PT", diz um petista da cúpula, que defende, também, a reconquista do respeito do presidente pelo seu partido. Esse respeito significa ouvir a legenda na hora de concretizar a política de alianças para outubro, ponto nevrálgico e que sempre provocou brigas internas dolorosas e estafantes. E que deve provocar novos embates este ano. Como adiantou o Valor, Lula vai começar a conversar com PTB, PP e PL, para saber com quem poderá contar nas eleições deste ano. A aproximação, mais uma vez, com legendas classificadas como "de direita", arrepia os setores mais à esquerda do PT. Essa ojeriza intensificou-se ainda mais após o escândalo do mensalão. Pouco mais de oito meses de bombardeios da oposição esfarelaram a bandeira ética do partido e quase sepultaram um quarto de século de história petista. "Depois do Roberto Jefferson, quero ver quem vai ter a coragem de vir no Diretório Nacional ou no encontro nacional de abril defender uma aliança com o PTB", desafiou o secretário-geral do PT, Raul Pont (RS). "E o PP? Eles eram Arena, apoiaram o governo militar. São o que há de pior na direita brasileira", atacou Pont. O secretário-geral petista lembra que, na última reunião da Executiva, realizada no dia 3 de fevereiro, ficou acertado que o espectro de aliança incluiria partidos que tivessem afinidade ideológica e programática. "Não foram citados nomes, mas é evidente que nossas afinidades estão no campo da esquerda, com partidos que têm inserção nos movimentos sociais e nos sindicatos. Não adianta fazer coligações pensando apenas nas votações do Congresso", resumiu Pont. Um dos petistas mais próximos do presidente Lula, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) acredita que os traumas deste dependem de como a discussão será conduzida. "O presidente Lula tem que estabelecer um pacto de confiança com o PT, de tal forma que possa ampliar sua base de apoio amparado em um programa de governo. Se isso não acontecer, será inevitável o surgimento de tensões", acredita Greenhalgh. Para ele, o jantar de hoje poderá ser um bom indicador de como essa relação vai se consolidar até outubro. Principal responsável pelo desenho dessa política de alianças, o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini (SP) repete, como um bordão, que "o PT é um partido plural", mas acha que as divergências internas serão insuficientes para transformar o debate em uma batalha. "O PT não tem posições fechadas, mas existem outros atores que fazem parte do governo Lula, desde o início, que precisam ser levados em conta", lembrou o petista. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), corrobora a posição de Berzoini. "É uma ilusão achar que as alianças posteriores não serviram para nada. Obtivemos várias vitórias no Congresso por conta de aliados que vieram depois. Não podemos fingir que isso não aconteceu", reconheceu Chinaglia. O líder governista também acha que as futuras conversas devem partir do patamar programático. Mas é contra o discurso fácil de que PTB, PP e PL são "mensaleiros", omitindo-se a responsabilidade do PT no episódio. "Seria como a mãe de um aluno atribuir os erros do filho às companhias do menino". A deputada Maria do Rosário acha que o debate sobre alianças vai esquentar somente no encontro nacional do PT, previsto para abril. "No PT, esse assunto sempre vai ser polêmico. Mas as atuais alianças ocorreram sem um programa de governo, o que maculou o processo. Muitas das legendas só vieram no segundo turno, outras só passaram a nos apoiar agora, como o PP", lembrou Maria do Rosário. Sobre o jantar de hoje, ela não acha o momento adequado para discutir a questão com o presidente Lula. "É hora de festejarmos. Estamos de pé, firmes, fortes, apesar da situação complicada que alguns dos nossos antigos dirigentes nos colocaram", exaltou a petista gaúcha. (Colaborou Rosângela Bittar, de Brasília).