Título: Meta é duvidosa, mas Suécia quer deixar de usar petróleo até 2020
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2006, Internacional, p. A8

No momento em os Estados Unidos e a União Européia falam em ampliar o uso de biocombustíveis, a Suécia reafirmou um objetivo ambicioso: acabar com a dependência do petróleo até 2020. Analistas acham a meta difícil de ser atingida, especialmente no transporte, mas acreditam numa substancial redução do consumo. Em janeiro, o presidente George Bush surpreendeu ao dizer que os EUA estão viciados em petróleo importado e que vai estimular o uso de combustíveis alternativos. Na semana passada, a UE anunciou uma série de medidas para favorecer o setor de biocombustíveis. Mas na terça a Suécia confirmou a iniciativa mais radical, ao propor abandonar o petróleo como matriz energético em menos de 15 anos. A preocupação com o petróleo deriva da alta dos preços do produto nos últimos anos e do risco de instabilidade política em alguns dos principais países produtores, como Irã, Iraque, Arábia Saudita, Venezuela e Nigéria. A Suécia é ainda um dos países na vanguarda do combate ao aquecimento global. "Nossa dependência do petróleo deve acabar até 2020", disse na última terça-feira Mona Sahlin, ministra de Desenvolvimento Sustentável da Suécia. A meta foi saudada por grupos ambientalistas, mas é vista com ceticismo por muitos especialistas, que a consideram irrealista. Mesmo autoridades suecas admitem que acabar completamente com o uso de petróleo em tão pouco tempo é quase impossível, mas que o objetivo é garantir que haja sempre uma alternativa viável aos combustíveis fósseis. "Deverá sempre haver alternativas melhores que o petróleo, o que significa que nenhuma casa deve precisar de óleo para aquecimento e nenhum deve precisar somente de gasolina", disse Sahlin em entrevista à agência Associated Press. O país quer estar "mentalmente e tecnicamente preparado" para enfrentar um eventual colapso no fornecimento do petróleo. O governo pretende atingir a meta por meio do estímulo à pesquisa de combustíveis alternativos, incentivos fiscais para que os consumidores adotem essas alternativas e uma ampliação da produção de energia renovável. Alguns dos incentivos fiscais já foram introduzidos, como para o uso de veículos a etanol. Um comissão criada pelo governo deve apresentar um relatório ainda esta ano com mais propostas. "Não acho que é realista, mas é uma boa ambição", afirmou Kenneth Werling, executivo-chefe da Agroetanol, que opera a maior usina de etanol da Suécia. "Talvez possamos construir uma sociedade menos dependente do petróleo, o que já é bom em si." A ministra Sahlin, porém, diz que a Suécia pode conseguir. "Honestamente, quais são as alternativas? Esperar para ver quando o petróleo ficar ainda mais caro?" Para complicar ainda mais a meta, a Suécia pretende deixar o petróleo sem ampliar o uso de usinas nucleares, que hoje geram um terço da energia consumida. Para isso, o país, com 9 milhões de habitantes, está ampliando a geração de energia eólica e por queima de biomassa. Em 2003, 26% da energia consumida na Suécia já vinha de fontes renováveis, enquanto a média da UE é de apenas 6%. A participação do petróleo na geração de energia caiu de 70%, em 1970, para 32%. Analistas dizem que, além de reduzir mais ainda o uso de petróleo para geração de energia, o país pode praticamente acabar com a utilização de óleo para aquecimento doméstico, item importante num país com um inverno frio e que dura cinco meses por ano. Atualmente, a maior parte do aquecimento já é feita em pequenas centrais distritais que queimam lixo ou biomassa e distribuem o vapor para as residências. Só 8% das casas na Suécia usam óleo combustível. E há incentivos fiscais para mudar para fontes renováveis. O desafio mais difícil é alterar o combustível no setor de transporte. Hoje, só 1% dos 4 milhões de veículos em circulação no país usam combustíveis alternativos, principalmente o etanol. Mas as vendas de carros ecológicos ´dobrou no ano passado. Em dezembro, o Parlamento aprovou uma lei que obriga todos postos de gasolina a vender ao menos um combustível alternativo. Hoje a Suécia mistura 5% de etanol em sua gasolina, o que faz do país o maior consumidor de álcool combustível per capita na UE. Mas há uma séria restrição ao uso do etanol. Segundo o jornal sueco "Dagens Nyheter", nem se o país dedicasse toda sua capacidade florestal à produção de álcool, não conseguiria produzir o suficiente para substituir a gasolina. Mais da metade do etanol consumido pelos veículos na Suécia é importada do Brasil. Isso significa que, para atingir a meta de se livrar da dependência do petróleo, o país terá de depender de etanol importado, enquanto não houver outra opção economicamente viável.