Título: Discordância sobre exames alonga crise da aftosa no PR
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2006, Agronegócios, p. B11

Sanidade Ministério da Agricultura e governo estadual não se entendem

A solução final para os novos casos de febre aftosa em pelo menos três fazendas do Paraná está emperrada por divergências sobre a necessidade de realizar exames adicionais para isolar o vírus da doença. Nos bastidores, Ministério da Agricultura e Paraná travam uma disputa sobre a validade de realizar agora novos testes. Em conversas reservadas, veterinários paranaenses insistem em uma nova coleta de material dos animais de dez fazendas situadas em Grandes Rios, Maringá, Loanda, Amaporã e Bela Vista. A equipe do ministério argumenta ser "desnecessária, além de improdutiva" uma nova investigação. "Seria voltar no tempo. Já fizemos isso em outubro. (...) E não deu resultado". O Paraná argumenta que só o isolamento do vírus daria tranqüilidade ao país para iniciar o abate de animais infectados. "Não tem aftosa no Paraná. Só vamos admitir um foco se for possível isolar o vírus. Jamais admitiremos apenas com sorologia positiva", tem dito o vice-governador e secretário de Agricultura, Orlando Pessuti. O superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, Valmir Kowalewski de Souza, confirmou que volta e meia vem à tona a discussão sobre a necessidade de coletar mais material para exames. Mas afirmou que o governo federal trabalha com os resultados das 2.205 amostras de sangue coletadas no Estado. "Estamos analisando os exames já realizados". Kowalewski observa que, até 2003, era exigido o isolamento viral, mas a regra mudou. "O que vale é a sorologia positiva e a vinculação com a origem, regra adotada para confirmar o foco no Paraná", afirmou. O ministério já admitiu a "nítida vinculação" dos resultados positivos com os animais originários de Mato Grosso do Sul e um índice de 12% de positividade em parte dos 2.205 testes realizados. Gustavo Fanaya, do Sindicato da Indústria da Carne (Sindicarne), considera a discussão perda de tempo. "Podem fazer mil testes que nunca vai dar nada. Vamos passar o resto da vida nisso", disse. Relator de uma "mini CPI" sobre o caso na Câmara, o deputado Cezar Silvestri (PPS-PR) disse que a discussão é necessária. "Temos que encontrar a verdade. Os produtores já sofreram demais". Para a equipe do ministério, é quase impossível mudar a percepção do mercado externo sobre o assunto. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e a UE já estariam "absolutamente convencidas" da ocorrência de novos focos no Estado. "E a cada dia de indefinição fica mais claro para eles que algo está errado", disse a fonte.(Colaborou Marli Lima, de Curitiba)