Título: Fabricantes de celular adotam o Brasil como plataforma e vendem 227% mais
Autor: Raquel Landim, Vanessa Jurgenfeld e Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2006, Brasil, p. A3

As fabricantes de telefones celulares se destacaram entre as companhias campeãs do comércio exterior em 2005. Motorola, Nokia, Siemens e Samsung mais do que duplicaram seus embarques. Graças a essa performance, as exportações brasileiras de celulares atingiram US$ 2,4 bilhões no ano passado, alta de 227% ante 2004, conforme a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). As duas maiores fabricantes de celulares do país, Nokia e Motorola, exportaram US$ 1 bilhão cada. A finlandesa Nokia elevou os embarques em 251,4% em 2005, enquanto a americana aumentou as vendas em 128,6%. As exportações da alemã Siemens cresceram 212,5% para US$ 208 milhões. As vendas para o exterior da coreana Samsung subiram 128%, para US$ 125,8 milhões, segundo Ministério do Desenvolvimento. As exportações brasileiras de telefones celulares começaram a crescer em 2003, mas sofreram um "baque" no ano seguinte. As empresas foram surpreendidas pelo crescimento do mercado interno e deslocaram para o país a produção destinada à exportação. As vendas da Motorola caíram 12% em 2004; os embarques da Nokia cederam 54%. Como se trata de um produto de ciclo curto, as empresas investiram e rapidamente ampliaram a produção, transformando o Brasil em plataforma de exportação em 2005. Ao contrário da maioria dos exportadores, o dólar barato favorece as fabricantes de celular, que importam cerca de 90% dos componentes. Em 2005, a Motorola importou US$ 1,5 bilhão, US$ 500 milhões a mais do que exportou, segundo dados do governo. Já a Nokia importou US$ 884 milhões, apenas US$ 100 milhões abaixo dos embarques. Marcelo Therezo, diretor-geral da fábrica da Motorola em Jaguariúna, interior de São Paulo, acredita que o "ápice" de exportações da empresa será atingido esse ano. A Motorola planeja elevar os embarques em mais 50% em 2006 e abastecer toda a América Latina, com exceção do México. Desde que o mercado latino-americano explodiu há três anos, a filial brasileira deixou de exportar para os EUA. O mercado americano é atendido pelas fábricas na China e no México. "O volume de exportação atual coroa esse processo de investimento", diz Therezo. Desde 1997, quando começou a fabricar celulares no Brasil, a Motorola investiu US$ 492 milhões, metade na época da instalação da fábrica e mais US$ 20 milhões por ano. A empresa aumenta a produção em 70% anualmente. A Nokia investiu US$ 120 milhões em 2005 para aumentar a produção de celulares e atender os mercados externo e interno. "Queremos nos voltar para a exportação sem perder mercado local", explica Fernando Terni, presidente da companhia no Brasil. Os Estados Unidos são o principal mercado da filial brasileira, que também vende para América Latina e Europa. Nesse ano, a Nokia pretende manter o atual patamar de exportação. Terni, no entanto, está preocupado com os problemas de logística que vêm enfrentando na Zona Franca de Manaus. "Chegamos a um patamar de exportação tão alto que exauriu a capacidade logística da região". Segundo ele, o governo e as companhias de aviação não acompanharam o crescimento da produção em Manaus, modernizando aeroportos, reduzindo a burocracia e aumentando o número de vôos. Terni reclama da alta no preço do frete, do reduzido número de fiscais para liberar as mercadorias e da necessidade de manter um estoque elevado por conta da logística ruim. (RL)