Título: Grupo de empresas dobra exportações em 2005
Autor: Raquel Landim, Vanessa Jurgenfeld e Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2006, Brasil, p. A3

Comércio exterior Das 16 empresas, colocadas entre as 250 maiores exportadoras, sete aumentaram as vendas em 200%

Um seleto grupo de 16 companhias brasileiras não terminou o ano de 2005 "chorando" as perdas provocadas pelo câmbio. Em alguns casos, foi um golpe de sorte. Em outros, uma estratégia bem sucedida. O fato é que essas companhias conseguiram duplicar suas exportações em um ano. Sete delas aumentaram os embarques em mais de 200%. As exportações da Nokia cresceram 215% em 2005, superando US$ 1 bilhão. A Alstom teve aumento de 318% nas vendas para o exterior no ano passado. O resultado é muito superior à alta de 22,6% do total das exportações em 2005 e ocorre quase à revelia da valorização de 13,4% do real ante o dólar no período. A rentabilidade das exportações do país caiu 12% em 2005 ante 2004, conforme a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior. Na maioria das empresas, o aumento de mais de 100% nas exportações não é um efeito estatístico, pois as companhias possuem um porte relevante. Das 17 mil empresas que se aventuraram no mercado externo no ano passado, essas companhias integram uma lista das 250 maiores exportadoras elaborada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Antonio Iafelice, da Agrenco do Brasil: "Estamos explorando um nicho de forma diferente dos concorrentes" No grupo, há empresas que trabalham com originação de grãos, siderurgia, eletroeletrônicos, caminhões e equipamentos de alta tecnologia. O desempenho das fabricantes de celulares impressiona: Motorola, Nokia, Siemens e Samsung mais do que dobraram os embarques. As estratégias para obter tais desempenhos foram diversificadas: melhorar a logística, aumentar a capacidade instalada, unir forças com outros grupos, ou, simplesmente, aproveitar os bons preços das commodities. Em 2004, a filial brasileira da Alstom venceu a concorrência do metrô de Nova York. A encomenda foi vultuosa: mais de mil carros para serem entregues em quatro anos. Com esse contrato, a companhia decidiu aumentar em 50% a capacidade de produção de sua fábrica em São Paulo. Segundo Christiane Aché, diretora de projetos e financiamento de exportação da Alstom, a aposta no mercado externo vem desde 1996, quando a empresa deixou de importar os carros de metrô da França e passou a produzir no Brasil. "Nosso mercado é ligado aos ciclos políticos de investimento. Se for apenas para atender ao mercado interno, não vale a pena". Em 2005, a Alstom Brasil exportou US$ 219,8 milhões, ante US$ 52,5 milhões em 2004. Para Christiane, a filial brasileira possui duas vantagens é competitiva porque consegue exportar com tarifa zero para o Mercosul e possui um prazo mais curto de entrega. Ela acrescenta que o câmbio também era um fator de competitividade, mas o cenário mudou com a valorização do real. Para 2006, a Alstom não espera um novo aumento expressivo dos embarques, mas pretende mantê-los no nível atual. "Ficou complicado, porque com esse câmbio nossas propostas para as licitações estão mais caras, mas acho que vamos conseguir", diz Aché. A Inlogs passou a ser denominada, desde dezembro, Agrenco do Brasil, devido a uma reorganização do grupo iniciada em 2004. A companhia incrementou as exportações em 217% no ano passado. Saiu de US$ 99 milhões no fim de 2004 para US$ 315 milhões em 2005. O grupo Agrenco deve faturar US$ 1,4 bilhão este ano, com a Agrenco do Brasil respondendo por metade do total. "Estamos explorando um nicho de forma diferente dos concorrentes", explica Antônio Iafelice, presidente mundial do grupo. Empresa especializada em prestação de serviços na área de grãos (logística, armazenagem e distribuição em todo o mundo), a Agrenco do Brasil mudou a forma de atuar no fim de 2004. Ela passou a vender pacotes de soluções integradas aos seus clientes. Na prática, por exemplo, o cliente não faz a entrega do grão no terminal do grupo, mas sim o grupo agora busca toda a carga que será armazenada e exportada. "Antes, levávamos em média 15 dias para carregar um navio com soja. Hoje, nossa média está em 2,8 dias", exemplifica Iafelice. Aliado à eficiência nos embarques, também esteve um outro fator. A Agrenco do Brasil fechou acordo com o grupo japonês Marubeni. O gigante do setor de agronegócios adquiriu 25,5% do controle do terminal Terlogs (localizado em São Francisco do Sul), abrindo as portas para a Agrenco distribuir com mais força a produção brasileira na Ásia. Como resultado, as exportações de US$ 460 milhões para aquela região corresponderam à metade do faturamento da Agrenco do Brasil no ano passado. "Tivemos crescimento acelerado em Taiwan, Japão e Coréia. Provamos que temos boa armazenagem e pela primeira vez a Ásia comprou grãos o ano inteiro, não só na época da colheita brasileira. Ganhamos mercado em cima dos americanos", diz. Embora muitos exportadores reclamem do ano de 2005, na Agrenco, nada foi visto como tão trágico. Até mesmo os problemas com a seca em alguns Estados, deixando a safra menor, tiveram efeito positivo importante: melhoraram os preços no mercado. E a perda cambial foi contrabalançada por corte de custos "um pouco" superior. "Dessa forma, a situação cambial não afetou em nada o nosso desempenho", diz Iafelice. O lucro mais que dobrou em 2005, ficando em US$ 20 milhões. A retração do mercado interno, principalmente no setor de construção civil, levou a siderúrgica Belgo Mineira, empresa controlada pela Arcelor, a registrar grande aumento nos volumes de aço colocados no mercado externo. Com a queda de consumo no país, a siderúrgica deslocou as vendas para outros países da América do Sul. A retração doméstica foi de 13%, relatou a empresa. Segundo a Belgo, em volumes, houve alta de 50% nas exportações em 2005 em relação ao ano anterior. Das vendas totais, a comercialização para o exterior representou no ano passado 38%. Segundo o MDIC, em dólares, o aumento foi de 255,4%. Em 2005, as exportações da Belgo chegaram a US$ 521,8 milhões, ante US$ 146,8 milhões de 2004. Segundo a Belgo, o crescimento acima dos 200% foi resultado da alta do volume exportado e da melhoria do mix de produtos no mercado externo, com itens de maior valor agregado. Apesar da grande elevação em dólares, o impacto do aumento das exportações no balanço da empresa não deverá ser tão expressivo em conseqüência da desvalorização cambial.