Título: CPI dos Correios adia decisão sobre convocação de Thomaz Bastos
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2006, Política, p. A9

Antes de declarar guerra explícita ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a oposição decidiu aguardar os depoimentos marcados para amanhã na CPI Mista dos Correios. A reunião administrativa que seria realizada hoje na CPI, em que poderia ser votado o requerimento de convocação do ministro a depor, foi adiada. O relator da comissão, Osmar Serraglio (PMDB-PR), admitiu que é melhor deixar os ânimos arrefecerem antes de discutir a convocação do ministro. Para neutralizar os oposicionistas, Thomaz Bastos reiterou ontem que será uma honra comparecer à CPI. Governistas também afirmaram ontem que o ministro jamais recusaria um convite da comissão. No entanto, nos bastidores, o governo considera um abuso a oposição exigir o comparecimento do ministro. Caso a convocação seja inevitável, inclusive na CPI dos Bingos, Thomaz Bastos comparecerá, mas não dirá o que a oposição quer ouvir. PSDB e PFL querem que o ministro confirme publicamente que é falsa a chamada lista de Furnas, que supostamente indicaria nomes de 156 políticos que receberam financiamento ilegal de campanha. O ministro, se convocado, apenas dirá que a investigação sobre a veracidade da lista está em curso, e que não cabe a ele emitir uma opinião pessoal sobre a lista. "O ministro já disse que está totalmente disponível. Ele pode até ter uma convicção pessoal (sobre a falsidade ou veracidade da lista), mas não poderá se pronunciar sobre uma investigação em curso. É evidente que ele fala na CPI. Só não dará nenhuma palavra conclusiva", definiu o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP). Amanhã, prestarão depoimentos o ex-presidente de Furnas Dimas Toledo e o lobista Nilton Monteiro. Toledo é acusado de ter elaborado a lista, o que nega com veemência. Monteiro procurou a CPI reservadamente e disse ter mais informações detalhadas sobre financiamentos ilegais em Minas Gerais. A suposta lista de Furnas cita políticos ligados ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Também estaria na lista o ministro Hélio Costa (Comunicações). A oposição quer evitar o depoimento de Nilton Monteiro, que pretende dar credibilidade à lista. O cancelamento da vinda do lobista pode servir de moeda de troca para evitar o depoimento do ministro. Os oposicionistas consideram que a lista foi divulgada por petistas, para atacar os pré-candidatos do PSDB à Presidência da República. Integrantes do governo e do PT reagiram, afirmando que caberá à Polícia Federal investigar a denúncia. A investigação está sendo conduzida desde agosto de 2005. O assunto veio à tona depois que o ex-deputado Roberto Jefferson, cassado em 2005, confirmou ter recebido R$ 75 mil no esquema de financiamento de Furnas, conforme constaria na suposta lista. Irritados, tucanos e pefelistas fizeram um pacto de não dar sossego ao ministro da Justiça até que ele ou a PF anunciem que a lista é falsa. Há inconsistências na lista, como nomes de políticos que não disputaram a eleição em 2002. "O ministro nem precisaria vir à CPI. É só acionar a Polícia Federal tão republicana dele para que digam se a lista é real ou uma fraude. Ou declare, ou venha ao Congresso", exigiu o líder do PFL, José Agripino Maia (RN).