Título: Serra volta dos EUA e aguarda consenso tucano
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2006, Política, p. A10

O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), voltou dos Estados Unidos ontem disposto a permanecer adiando a definição sobre o lançamento ou não da sua candidatura presidencial por pelo menos mais três semanas. Pressionado pela cúpula tucana a colocar-se claramente no jogo, Serra insiste na estratégia de só renunciar à prefeitura se for um nome consensual, o que implicaria na retirada da pré-candidatura do governador paulista, Geraldo Alckmin. "Serra não vai assumir uma pré-candidatura nunca. Ou será chamado por todo o partido para ser o candidato, ou não vai deixar a prefeitura. Jamais haverá um cenário em que ele disputará a preferência com Alckmin", opinou o líder da bancada tucana na Câmara, Alberto Goldman (SP), ligado ao prefeito. O presidente do partido, o senador Tasso Jereissati (CE), e o governador de Minas, Aécio Neves, pressionam Serra a assumir suas pretensões para antecipar a decisão do partido. São dois os argumentos, segundo afirmou o secretário-geral da sigla, o deputado Eduardo Paes (RJ), próximo de Serra: o risco da briga interna agravar a disputa e o crescimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O parlamentar apóia a estratégia de Serra de postergar a decisão. "Até agora, a disputa não trouxe nada de preocupante ou anormal", disse. Os integrantes da cúpula tentam articular uma conversa direta de Serra com Alckmin esta semana, quando todos os dirigentes do PSDB irão se encontrar em São Paulo para participar de um seminário promovido pelo partido e por industriais sobre economia. No front serrista, nem todos concordam com a estratégia de Serra de jogar a decisão para frente. "A direção do partido está convencida de que Serra é o candidato mais forte, mas só vão se movimentar a convencer Geraldo Alckmin a desistir se tiverem certeza de que Serra é candidato. A disputa é um risco que exige coragem, e o Serra sempre foi corajoso", argumenta uma liderança tucana próxima ao prefeito, com quem conversou ontem. Entre os apoiadores do governador, a decisão do prefeito de não se lançar é vista como um trunfo: o cálculo de seus aliados é que basta Alckmin insistir em sua pré-candidatura para progressivamente inviabilizar o nome de Serra como alternativa. Seus aliados contam com a neutralidade do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do presidente da sigla. Ontem, o governador encontrou-se com o líder do PFL na Câmara, o deputado Rodrigo Maia (RJ), filho do prefeito do Rio Cesar Maia, que é o maior defensor do apoio pefelista ao PSDB, condicionado à escolha de José Serra como o candidato tucano. Tanto o governador como o pefelista evitaram dar detalhes do encontro. Já Serra manteve a rotina administrativa, visitando obras viárias na capital.