Título: Rotina de trabalho obedece fuso horário dos clientes
Autor: Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2006, Empresas &, p. B1

Talvez em nenhuma outra atividade o desgastado termo "globalização" seja tão apropriado como no desenvolvimento e gerenciamento de software. Esse trabalho pode ser feito a partir de qualquer lugar do planeta que reúna custo acessível, técnicos capacitados e uma boa infra-estrutura de comunicações. Não há fronteira para um produto intangível, escoado via links de satélite ou redes de fibras ópticas. O time de profissionais do centro da IBM só está em Hortolândia fisicamente. Sua atenção fica nos sistemas de empresas espalhadas por todos os continentes, controlados remotamente por meio de pontos de presença de nove provedores de telecomunicações instalados no complexo. Isso obriga os técnicos a seguir uma rotina que guarda mais relação com a realidade dos EUA ou da Europa do que do Brasil - afinal, é preciso estar disponível no momento em que o cliente necessita. Os feriados nacionais, por exemplo, não significam nada para muitos funcionários do centro, mas quem atende a companhias americanas pode folgar em 4 de julho, dia da independência dos EUA. Da mesma forma, o horário de trabalho segue o fuso do país em que o cliente está situado, o que em alguns casos resulta na troca do dia pela noite. O centro funciona em três turnos e jamais fica vazio. Para o americano Robert Payne, vice-presidente de serviços da IBM no Brasil, essas peculiaridades são inevitáveis para quem atua no negócio de desenvolvimento e manutenção de sistemas "offshore", como a atividade é conhecida. Payne já coordenou a unidade de serviços da IBM na Ásia e conta que em um bairro das Filipinas com grande concentração de prestadores de serviços para clientes dos EUA e Europa há uma boate que abre às 9 horas da manhã para atender ao público que está saindo de uma noite cansativa de trabalho. Falar o idioma dos clientes também é essencial. Em Hortolândia, os funcionários precisam ser fluentes em inglês, espanhol ou francês, além do português. A média de idade das pessoas que trabalham no centro da IBM fica abaixo dos 30 anos. Apesar da disciplina que o ambiente exige, esses jovens que têm na ponta dos dedos o controle dos sistemas de grandes companhias multinacionais encontram espaço para descontração. Distribuídos em um interminável labirinto de corredores idênticos, os mais de 3 mil programadores usam bandeiras dos países dos clientes, bonecos e outros adornos colocados sobre as divisões das baias para facilitar a localização de seu lugar de trabalho. Em uma das áreas - que provavelmente atende a empresas brasileiras - essa indicação é feita por um conjunto de penas remanescentes de uma fantasia de carnaval. "Sempre é preciso respeitar a cultura local", diz Payne, com um sorriso. (RC)