Título: Expansão do Centro de Hortolândia retrata guinada da IBM no Brasil
Autor: Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2006, Empresas &, p. B1

Sistemas Subsidiária é uma das maiores beneficiadas do enfoque mundial em serviços

Quem passa pelo quilômetro 9 da Rodovia Campinas-Monte Mor, no município de Hortolândia (SP), pode se deixar enganar pelo verde e pela tranqüilidade da paisagem. Mas o cenário pacato termina na porta de entrada da grande construção horizontal que se avista da estrada. Ali, no centro de tecnologia da IBM, 3,4 mil funcionários estão com os olhos fixos nas linhas de códigos de sistemas que descem nas telas à sua frente, gerenciando e desenvolvendo os softwares que sustentam as operações de algumas das maiores companhias do mundo, onde quer que estejam. Hoje, esses serviços executados remotamente - muitas vezes a partir de países com mão-de-obra barata, como o Brasil - são uma parte importante do que a IBM faz. E é isso que está alçando a subsidiária nacional da "Big Blue" a uma condição estratégica inédita para a fornecedora. Sobre a cabeça dos programadores, o teto do centro, remanescente de quando a estrutura abrigava a fábrica de computadores de Sumaré, inaugurada pela IBM em 1971, conta a história de como a empresa conseguiu dar uma guinada em seu modelo de negócios que poucas companhias desse porte conseguiram executar. A fornecedora deixou para trás sua origem de fabricante de equipamentos - que o nome International Business Machines continua a denunciar - para se tornar uma prestadora de serviços. A atividade respondeu por mais da metade de sua receita mundial de US$ 91,1 bilhões no último ano. Em 1996, cinco anos depois de Hortolândia emancipar-se do município de Sumaré, a IBM Brasil terceirizou a atividade fabril para a Solectron e transformou o local no embrião do atual centro de serviços. Somente agora, uma década depois de iniciada a mudança, fica claro o quanto a operação nacional se beneficiou da guinada. Há dez anos, a subsidiária brasileira da empresa tinha cerca de 2,2 mil funcionários. Hoje são 9,3 mil diretos e 3 mil indiretos. Nenhuma outra área da fornecedora cresce tão rápido no país. Só em 2005 foram contratados cerca de mil programadores para o centro. Dentro de três anos, o contingente deve saltar para 8 mil pessoas. Um novo prédio, com capacidade de abrigar 1,2 mil funcionários, está sendo construído no terreno e será inaugurado em março. Outra estrutura com capacidade idêntica já está prevista para junho. Ao todo, o setor de serviços da IBM no país - do qual o complexo de Hortolândia é a espinha dorsal - cresceu 46% em faturamento em 2005, impulsionado pelas exportações, que são um fenômeno recente para a subsidiária brasileira. As vendas externas de serviços somaram US$ 100 milhões no período, contra US$ 30 milhões em 2004, primeiro ano em que o centro passou a se focar no atendimento de clientes estrangeiros. Para 2006, a estimativa é dobrar esse montante. A operação nacional não foi a única que se beneficiou do novo posicionamento da IBM. "Os mercados emergentes tornam-se cada vez mais importantes para a companhia", diz Robert Payne, vice-presidente de serviços da fornecedora no país. No ano passado, a demissão de 13 mil funcionários na Europa, seguida da contratação de 14 mil na Índia, foi uma prova dessa política. Também não é exclusividade da IBM o bom momento em serviços de TI no Brasil. Em grau variável, o mesmo ocorreu com Accenture, EDS e HP, entre outras. A concorrência envolve ainda empresas que entraram recentemente no país, como a gigante indiana Tata Consultancy Services (TCS), e fornecedores nacionais, como Politec, CPM, Stefanini e BRQ. Mas o recente fechamento de alguns contratos de peso, como a InBev e o banco ABN Amro, criaram um ambiente de efervescência em Hortolândia difícil de ser igualado. Com a expansão, o centro de tecnologia da IBM vai tomando ares de uma pequena cidade. O local é servido por 85 linhas de ônibus que trazem funcionários - técnicos e desenvolvedores de sistemas - de Campinas e arredores. A estrutura conta com café, biblioteca, lavanderia e serviços médicos. O refeitório do complexo, recém-reformado para atender a 4 mil pessoas, já dá sinais de esgotamento. Por mês, são servidas 375 mil refeições. Em todo o mundo, a Big Blue tem 176 centros de tecnologia, formando uma ampla rede de prestação de serviços. A unidade de Hortolândia é considerada a quarta mais importante pela relevância dos clientes atendidos. Com esse crescimento, a IBM Brasil já está de olho em locais para erguer novos centros. Excelente infra-estrutura e proximidade de universidades que formem técnicos em computação são pré-requisitos, mas a empresa ainda faz mistério sobre o assunto. A única certeza, diz Payne, é que a operação nacional continuará a crescer enquanto a diretriz mundial da Big Blue for manter o foco em serviços.