Título: Cruzada muito impopular
Autor: Rizzo, Alana; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 21/05/2010, Política, p. 4

Ministros da área econômica pressionam presidente Lula para que o reajuste de 7,72% aos aposentados seja vetado. Medida, no entanto, pode pegar mal perante o eleitorado e custar votos à petista Dilma Rousseff

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está numa encruzilhada: seguir o que recomenda a área econômica e vetar o reajuste de 7,72% para aposentados e pensionistas, ou sancionar o aumento, como pedem os políticos da base aliada, incluindo aí deputados e senadores de todos os partidos. Os parlamentares apostam que Lula não vetará o projeto aprovado no Congresso, mas o primeiro sinal do presidente foi na direção inversa. Ao discursar na Marcha dos Prefeitos ontem, em Brasília, Lula reclamou dos congressistas: Vocês viram a votação da previdência, do fator previdenciário. Tem gente que acha que ganha voto fazendo isso. Quando, na verdade, se o povo compreender o que significa isso, essas pessoas podem até não ganhar o tanto de votos que pensam que vão ganhar, disse. A gente tem que agir com a maior responsabilidade, porque se a gente quebrar a prefeitura, o estado, ou quebrar o governo, não recuperamos no curto prazo. No Centro Cultural Banco do Brasil, onde Lula continua instalado, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo que já convenceram o presidente da necessidade de barrar o texto que acaba com o fator previdenciário (veja quadro) sobre as aposentadorias do serviço público , fizeram a defesa do veto ao reajuste. O principal argumento é o de que o governo precisou cortar R$ 20 bilhões no início do ano. Recentemente, cortou mais R$ 10 bilhões para enxugar a economia e, assim, conter a inflação e evitar um aumento maior nos juros. O reajuste da Previdência, beneficiando inclusive quem se aposentou recentemente, poria esse esforço a perder.

Defesa Enquanto Mantega e Paulo Bernardo pisam firme pelo veto, os deputados e os senadores aliados se revezavam na tribuna em defesa do texto aprovado. A nossa expectativa é pela sanção, comentou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Os parlamentares fizeram chegar a Lula a versão de que os R$ 600 milhões a mais de gastos por conta do aumento dos aposentados é uma gota no oceano das contas públicas e, além disso, é péssimo não conceder o reajuste. Para completar, sancionado o reajuste, os congressistas teriam desculpa para evitar outros aumentos que estão no Congresso, como os do Poder Judiciário. Estou convencido de que a forma mais justa de a gente fazer política é transferindo responsabilidade e transferindo dinheiro para as pessoas poderem cumprir com aquela responsabilidade