Título: Previdência na euforia
Autor: Danilo Fariello
Fonte: Valor Econômico, 14/02/2006, EU &, p. D1

Planos com renda variável obtêm em janeiro maior rentabilidade e apresentam captação também em alta

A captação dos planos de previdência privada balanceados - mais agressivos por investirem também em renda variável - cresceu mais que a das carteiras de renda fixa em janeiro, segundo análise do site Fortuna. Esta foi a primeira vez desde maio do ano passado que esse índice foi maior para os planos balanceados do que para os de renda fixa, que continuam, porém, concentrando a maior parte das aplicações, com 93,24% dos recursos investidos em previdência complementar aberta. No mês, os fundos mais agressivos também se destacaram por uma rentabilidade muito mais alta, embalada principalmente pelo avanço de 14,73% do Índice Bovespa (Ibovespa) no período. O movimento de janeiro revela um aumento da procura por produtos mais arriscados, na esteira da maior rentabilidade das carteiras. Apesar de ser ainda uma manifestação tímida, especialistas e profissionais do mercado indicam que esta pode ser uma tendência crescente no futuro, à medida que a taxa de juros caia e a rentabilidade dos planos de renda fixa também diminua. "Esse movimento tem a ver com a conjuntura, a alta da bolsa, e com a percepção de que a rentabilidade influi na renda futura", diz Juvêncio Braga, diretor da Caixa Vida e Previdência. A distância ainda é tremenda. Embora os planos de renda fixa tenham captado 1,27% do patrimônio da categoria no fim de 2005 e os balanceados 2,08%, em valores absolutos, a captação líquida dos renda fixa foi de R$ 571 milhões e dos balanceados foi de R$ 87 milhões. Mas os percentuais chamam a atenção porque, segundo Marcelo D'Agosto, do site Fortuna, nunca foi percebida uma aceleração maior dos fundos mais agressivos, que representam 4,08% do total de R$ 53 bilhões do mercado de previdência privada. O estudo leva em conta modelos Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL) e Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL). Cerca de 30% dos novos recursos aplicados em previdência nos planos da Mapfre Seguros já têm como destino os planos balanceados, diz Carlos Alberto Gadia Barreto, diretor de Previdência da seguradora. Na Icatu Hartford, também foi notada alta na procura por carteiras mais diversificadas, diz o diretor Aguinaldo Andrade. "Esse movimento foi incrementado no fim do ano e em janeiro, quando os juros já estavam em queda." Gadia, da Mapfre, diz que está em processo uma melhora na forma de distribuição dos planos, levando a uma mais correta decisão do participante. "Isso, na maioria dos casos, implica investir uma parcela dos recursos em ações." Braga, da Caixa, diz que o investidor que apimentar seu plano de previdência tem de ter claro o risco. "O sobe-e-desce das cotas dos fundos balanceados é maior." Ele destaca que, no horizonte de longo prazo considerado pela maioria dos investidores, o risco é perfeitamente tolerável. O aumento da oferta de produtos balanceados no mercado também ajuda, diz o diretor da Caixa. "Antes, era mais difícil encontrar esses fundos." Nos últimos meses, o mercado evoluiu também para a terceirização de gestores, com grandes seguradoras oferecendo produtos de outras casas, com mais tradição de administração mais agressiva. Márcia Dessen, sócia da consultoria BankRisk, diz que, pela proporção reduzida de investimentos em renda variável no setor de previdência aberta, há espaço para que os participantes arrisquem mais. Para Andrade, da Icatu, o porcentual da carteira de previdência a ser investido em ações será tanto maior quanto menor for a taxa básica de juros. Paralelamente ao juro menor, Andrade diz que haverá um processo de aculturação dos participantes da previdência. "Mas será uma conseqüência mais demorada da redução na rentabilidade na renda fixa." Mas para D'Agosto, do Fortuna, já há indícios desse movimento. Ele avalia que o movimento em busca do risco está ligado a uma realidade geral do mercado. Para ele, é razoável investir em fundos balanceados no longo prazo, principalmente neste momento, em que há uma perspectiva positiva para ações. Gadia, da Mapfre, vê, ainda, uma potencial migração dos recursos em renda fixa para os planos balanceados no futuro. No entanto, Márcia Dessen lamenta que essa procura por renda variável tenha aumentado logo após um momento de alta da bolsa. "Os investidores continuam a considerar a rentabilidade passada para definir suas aplicações." Segundo ela, a bolsa é indicada em carteiras de investimento de longo prazo sempre, independentemente da conjuntura. "Mas quem tenta pegar o melhor momento corre o risco de lucrar menos do que se ficasse só na renda fixa." É preciso considerar o perfil do participante para avaliar a parcela a ser investida em renda variável. Quando mais longe estiver o momento da aposentadoria e quanto mais recursos houver em outras aplicações, maior deverá ser a parcela investida em ações, diz Márcia. "Mas, para quem tem mais idade, é preciso ter mais cuidado, pois o horizonte curto pode pegar um momento negativo da bolsa." Pelas regras da Superintendência de Seguros Privados (Susep), os fundos de previdência balanceados podem investir até 49% em renda variável. No mercado, os mais comuns aplicam de 15% a 30%. O participante que optar por planos balanceados deve levar em conta, porém, que, nesta categoria, as taxas de administração costumam ser mais elevadas. Isso decorre da necessidade de maior atuação dos gestores. Portanto, para que esses fundos rendam mais, a parcela aplicada em renda variável tem de superar o retorno dos títulos de renda fixa com folga que banque a diferença entre as taxas.