Título: Eleição molda escolha de líderes no Congresso
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2006, Política, p. A7

Legislativo Principais adversários, petistas e tucanos tentam escolher novas lideranças de forma consensual

O "mapa de poder" que está sendo redesenhado a partir de hoje no Congresso, sob as novas lideranças partidárias e com a abertura oficial dos trabalhos em 2006, está intimamente ligado ao projeto eleitoral das legendas. Tanto no PT quanto no PSDB houve uma preocupação em camuflar ao máximo as divergências internas e tentar escolher os novos líderes por consenso, quando possível. Os dirigentes partidários avaliam que disputas nas bancadas expõem divergências internas e prejudicam as legendas nos debates eleitorais. O PT deve anunciar hoje a senadora Ideli Salvatti (SC) como a nova líder do partido, depois de contornar uma disputa interna com Ana Júlia Carepa (PA) e Eduardo Suplicy (SP), que pleiteavam a vaga. Para a cúpula petista, Ideli é muito mais experiente que Carepa - já ocupou a liderança - e tem personalidade forte para defender com veemência o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tribuna. "Ela é o Mercadante (líder do governo) de saia. E pior", brincou um adversário do PT no Senado. Quanto a Suplicy, o PT temia que ele pudesse, eventualmente, fazer críticas a Lula. Na Câmara, o PT pode tomar uma decisão inédita e reconduzir ao cargo de líder do deputado Henrique Fontana (RS), que assumiu em setembro passado, em meio ao furacão da crise política, para substituir o ex-líder Paulo Rocha (PA), que renunciou ao mandato para escapar da cassação. Como o desempenho de Fontana tem sido elogiado por políticos experientes e líderes aliados, os partido considera justo mantê-lo no cargo. Já o PSDB buscava, até ontem, aparar as arestas na Câmara. Uma frente tucana foi acionada para tentar evitar a disputa pela liderança entre os deputados baianos Jutahy Júnior e João Almeida, considerados, respectivamente, aliados do prefeito José Serra e do governador Geraldo Alckmin. A vinculação da escolha do líder à disputa entre Serra e Alckmin pela candidatura à Presidência da República desagradou à cúpula tucana, sobretudo após a divulgação da pesquisa CNT-Sensus, que apontava uma vantagem de Lula sobre Serra de dez pontos percentuais no segundo turno. Dirigentes do PSDB receberam a função de tentar buscar o consenso. O secretário de Coordenação das Subprefeituras de São Paulo, Walter Feldman, licenciou-se por três dias para acompanhar a escolha do líder. Pelas contagens feitas no PSDB, Jutahy venceria a disputa. Até ontem, no entanto, João Almeida insistia em concorrer. Caso seja realizada a eleição na manhã de hoje, a ordem no partido é evitar qualquer rusga após o resultado. O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), que deixa hoje o cargo, disse que é "falsa" a conotação de que a disputa na Câmara reflete a disputa entre Serra e Alckmin. "Não é real isso. A escolha será no voto, o que não é um complicador", minimizou. "A disputa é saudável e não gerará conseqüências no partido, até porque imediatamente após a eleição acaba a disputa. O que o PSDB quer é ganhar a eleição e governar o país a partir de 2007", avaliou Jutahy Júnior. Vários parlamentares passaram o dia alertando os correligionários para o risco de uma disputa acirrada. O deputado Bismarck Maia (CE), ex-secretário-geral do PSDB, ponderou que o momento político é crucial e o patrimônio do partido é a união. "Não podemos, agora, fomentar a desunião interna. Quem é oposição não pode se dar ao luxo de fazer disputa interna", disse. Ao novo líder caberá a responsabilidade de conduzir a bancada no ano eleitoral e buscar convergência de ações e pensamentos. No Senado, os tucanos decidiram reconduzir à liderança o "pitbull" Arthur Virgílio (AM), famoso por polemizar diariamente com o PT na tribuna. O PFL também decidiu não mexer no time. No Senado, mantém José Agripino Maia (RN); na Câmara Rodrigo Maia (RJ) permanece na liderança e José Carlos Aleluia (BA) fica como líder da minoria. A bancada do PMDB na Câmara decidiu adiar a escolha do líder para o fim de março, quando o partido já terá realizado a prévia para definir o pré-candidato à Presidência da República. No Senado, fica no cargo por mais um ano Ney Suassuna (PB). O PPS elegeu como líder ontem o deputado Fernando Coruja (SC). O PSB adiou a disputa para a próxima semana. No PDT, o deputado Miro Teixeira (RJ) foi eleito líder por unanimidade.