Título: O risco que embute o triunfalismo
Autor: Maria Lúcia Delgado e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2006, Especial, p. A16

A ordem é evitar o triunfalismo. Não faltam exemplos de gestões bem avaliadas pelos pobres, com agrados à classe média, que acabaram derrotadas nas urnas por quem se propunha fazer mais e melhor. Mas o paradigma é a derrota de Marta Suplicy na disputa pela reeleição à capital paulista em 2004. Um dos muitos erros cometidos por Marta que os estrategistas do Planalto querem evitar é uma reta final de campanha com o país em tapumes de obras cheirando a oportunismo eleitoral. Daí ter-se iniciado em outubro do ano passado um minucioso levantamento das obras em curso pelo governo federal cuja divulgação tem passado por mudanças. Primeiro cortaram-se da lista as obras iniciadas e avançadas pelo governo anterior. Depois foram feitas visitas aos Estados na tentativa de se evitar a divulgação de engodos. Em seguida, decidiu-se regionalizar a divulgação. A opção por campanhas locais, teria sido decidida pelo próprio presidente. Em seu favor pesaram o custo, a possibilidade de se detalhar mais as obras de cada Estado e o estreitamento na relação do governo federal com os grupos regionais de comunicação. As verbas de publicidade da Presidência para 2006 estão duplicadas em relação ao ano passado. O aumento dos controles e da fiscalização, a partir do escândalo do mensalão, não tem facilitado o gasto nesta rubrica, que saiu do comando do chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos, Luiz Gushiken, e passou às mãos do discreto ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci. A educação é uma das áreas que deve ganhar espaço na publicidade oficial. O presidente quer mais divulgação para iniciativas como o Prouni, que concede bolsas em faculdades privadas para estudantes carentes, e a criação de nove novas universidades federais. Dos temores levantados no Palácio em relação aos oito longos meses que faltam para as eleições, um dos mais delicados é a reação da já escaldada classe média à divulgação maciça de ações afirmativas como, por exemplo, a política de cotas para as universidades. A estratégia de conversão da classe média ainda está em aberto, mas aposta-se num pacote de bondades tributárias, na linha do reajuste da tabela do Imposto de Renda. É grande a preocupação no Planalto com a classe média paulista, carro-chefe da rejeição ao presidente, e berço eleitoral de ambas as opções do PSDB à Presidência da República, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra. Para conquistar a classe média, Lula também está sendo aconselhado a dar mais consistência aos seus pronunciamentos e a não fazer bravatas na queda de braço do PT com o PSDB. É daí que se entende por que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ficou sem resposta de Lula em suas últimas acusações contra o governo e o partido. As recomendações são no sentido de que o presidente mantenha o tom com que anunciou, em janeiro, que o Brasil quitara suas pendências com o Fundo Monetário Internacional. Naquele pronunciamento, em cadeia nacional de rádio e televisão, Lula foi dirigido pelo publicitário João Santana, ex-sócio de Duda Mendonça e candidato a marqueteiro da campanha à reeleição. Suas chances de vingar no posto são diretamente proporcionais à força que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tiver na campanha.