Título: Tasso define 10 de março para escolha de candidato
Autor: Maria Lúcia Delgado e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2006, Especial, p. A16

Eleições Pesquisa CNT-Sensus mostra maior vantagem de Lula

Alarmados com a recuperação de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dirigentes e políticos do PSDB vão se balizar por duas novas pesquisas qualitativas realizadas a pedido do partido, que serão concluídas até quinta-feira, para definir o candidato. A cúpula do partido reúne-se em seminário realizado em São Paulo, amanhã, para debater os rumos da política econômica e analisar as pesquisas internas. Haverá uma conversa definitiva da direção partidária com o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin. O encontro será conduzido pelo presidente nacional da legenda, senador Tasso Jereissati (CE). Ambos serão comunicados que o prazo limite para a definição do candidato é 10 de março. O fortalecimento de Lula traz complicadores para a candidatura de Serra, já que os tucanos são obrigados a considerar um cenário em que podem perder a Presidência e também a prefeitura da maior capital do país. Mas aliados do prefeito garantem que, por sua personalidade, ele não temerá encarar a disputa, apesar de a última pesquisa CNT/Sensus ter apontado a derrota do tucano por Lula num segundo turno, por uma diferença de dez pontos percentuais. No início do ano, Serra quis antecipar a escolha do PSDB. Agora, acha que o melhor é empurrar a definição para o fim de março, porque evitaria turbulências e incertezas administrativas em São Paulo. Já Alckmin tem pressa. Deve prevalecer o meio termo, apesar da pressão do PFL para que o PSDB antecipe a escolha. "Precisamos escolher logo o nosso candidato. Lula está sem adversários, lançando pseudo-programas governamentais", apontou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). A condição para Serra encarar uma disputa de risco seria uma ampla convergência do PSDB em torno da candidatura. "Se o Serra sair da prefeitura, fará uma opção de vida, e não simplesmente uma opção política. É tudo ou nada. Se todos do PSDB definirem que o nome é Serra, os cidadãos de Sâo Paulo terão que entender", avaliou um dirigente do PSDB e defensor da candidatura do prefeito. Se as sondagens encomendadas pelo PSDB revelarem que a imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso prejudica o candidato tucano, ele se afastará do cenário. Para a cúpula tucana, a atuação de Fernando Henrique no início do ano foi fundamental para alertar o partido sobre o rumo do debate eleitoral. Agora que deu o tom, dizem, FHC poderá optar por um recuo estratégico. Os tucanos consideram que o jogo só está começando. Mesmo contestando ou minimizando o impacto da pesquisa da CNT-Sensus, admitem reservadamente que não se pode descrer da recuperaçáo de Lula. "Era algo que a gente já sabia que iria acontecer", relata um parlamentar. Integrantes do PSDB argumentam que o crescimento de Lula era esperado devido à exposição excessiva na mídia, com inaugurações de obras e vários eventos governamentais, e graças às medidas populares anunciadas no início do ano - especialmente o aumento do salário mínimo e a operação Tapa-Buracos. Houve ainda o desgaste do Congresso em janeiro, com a convocação extraordinária, e o fraco resultado político das CPIs. Outro elemento crucial será o candidato do PMDB. A candidatura de Anthony Garotinho favoreceria o PSDB, porque ele tira votos de Lula nas classes D e E. É remota a chance de Garotinho vencer a convenção nacional do PMDB. Em pesquisas qualitativas feitas pelo PSDB, cerca de 40% dos paulistanos rejeitavam a saída de Serra no meio do mandato. Na CNT-Sensus, 59,4% dos entrevistados responderam que esta decisão não vai afetar a imagem do prefeito. Para 25%, afeta. Enquanto no PSDB está aceso o sinal amarelo, o PT vive momentos de altíssima empolgação e aposta na recuperação de Lula para ampliar o leque de alianças ainda no primeiro turno. Lula pediu calma aos seus aliados, mas o clima ontem no Palácio do Planalto, após a divulgação da pesquisa CNT/Sensus, era de completa euforia. Os petistas já sabiam detalhes da pesquisa no jantar de segunda-feira, quando foram comemorados os 26 anos do PT. De acordo com a pesquisa, Lula venceria todos os seus adversários em segundo turno, inclusive José Serra. Neste cenário, Lula teria 47,6% contra 37,6% do candidato tucano. O índice de rejeição do petista também é o menor dentre todos os pré-candidatos - 35,8%, contra 41,7% do tucano. "Todo resultado positivo traz satisfação. Mas pesquisas tão distantes da data da eleição não traduzem resultados definitivos", ponderou o ministro da coordenação política, Jaques Wagner. A reação petista torna-se mais um atrativo na busca por alianças. "É claro que, quando você está na frente das pesquisas, torna-se um parceiro mais desejado", acentuou o ministro. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), já confirmou que vai pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma auditoria da pesquisa divulgada ontem. Obcecado por pesquisas eleitorais, o prefeito do Rio, Cesar Maia, disse que a pesquisa Sensus precisa ser auditada "para que se pare de manipular pesquisas com fins eleitorais". Na avaliação de Maia, a pesquisa é inconsistente e "tem todo o jeito de ter sido forjada". Maia apóia a candidatura de José Serra. "Sem Roberto Freire (PPS) e José Maria Eymael (PSDC), Serra tem 28,6%. Com os dois Serra sobe para 31,5%. Lula cai de 40,2% para 35,8%: cai mais que a intenção de voto nos dois", comparou. "Melhor que fazer auditoria é tomar maracujina", retrucou o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP). José Serra se recusou a comentar a pesquisa CNT/Sensus. "Só falo de questões da cidade", afirmou o prefeito. Já o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, alerta como a disputa PTXPSDB será acirrada. "Temos notado grandes variações nas pesquisas, o que demonstra, de fato, que estamos longe de ter um quadro consolidado". (Colaboraram Ivana Moreira, de Belo Horizonte, Janaina Vilella, do Rio, com agências noticiosas).