Título: Efeito é maior sobre vendas de manufaturados
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2004, Brasil, p. A-3
A manutenção da taxa de câmbio nos patamares atuais é perigosa para a exportação, e poderá ter reflexos negativos, sobretudo no segmento industrial como bens de capital, se o governo não reduzir custos internos provocados pelo excesso de burocracia. Mas os efeitos ruins ainda demoram. "Há 50 medidas que o governo poderia aprovar para reduzir custos e que poderiam compensar a taxa de câmbio", diz Benedicto Moreira, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), avalia que o nível de câmbio atual não é tão ruim e lembra que todas as projeções para 2005 indicam que o câmbio irá ficar acima de R$ 3 por dólar. "O problema é se o nível da taxa permanecer baixo por período mais prolongado, o que poderá significar prejuízos no fim de 2005 ou no início de 2006". Ribeiro salientou que as commodities reagem menos às variações cambiais porque dependem mais da oferta e das condições do mercado. Já nos manufaturados, as mudanças são mais relevantes e com impactos maiores sobre os preços de venda, compara Ribeiro. Essa situação faz com que as oscilações sejam mais sentidas nas vendas para os Estados Unidos, para onde o país exporta manufaturados, do que para a Europa, onde as vendas estão concentradas em produtos básicos. Moreira avalia que a taxa atual poderia ser até razoável se o Brasil tivesse uma política de custo decrescente na produção e na exportação, aplicando medidas de desburocratização. "Mas a valorização do real, somada à crescente redução do imposto de importação e ao aumento sucessivo dos custos internos, cria uma fórmula explosiva", diz Moreira. Christiane Aché, chefe do departamento de projetos e financiamentos à exportação da Alstom Brasil, considera que todas as medidas de desburocratização que facilitem a exportação são importantes para compensar a atual taxa de câmbio. Para Moreira, não existe um piso cambial que seja válido para todos os exportadores. O limite mínimo da taxa para que o agronegócio mantenha a competitividade é diferente do piso dos produtos industrializados. José Maria Rabelo, diretor de comércio exterior do Banco do Brasil, concorda que o câmbio pode impactar mais um setor do que o outro. Rabelo diz que, apesar da valorização do real, o banco aumentou os créditos à exportação. De janeiro a outubro, o Banco do Brasil liberou US$ 227 milhões no Proex Financiamento, com aumento de 32% sobre igual período de 2003. Do total liberado, 60% foram para grandes empresas, 24% para médias, 13% para pequenas e 3% para micro empresas. Ao todo, foram 1.033 operações neste ano ante 826 de janeiro a outubro do ano passado. O total de exportadores atendidos cresceu de 291, em 2003, para 353 em 2004, até agora.