Título: PMDB define regras da prévia em reunião boicotada por governistas
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2006, Política, p. A8

Interessada em ter candidatura própria e em evitar a contestação judicial dos governistas do partido, a Executiva nacional do PMDB definiu ontem as regras da prévia que escolherá o candidato do partido à Presidência da República. Na presença de seus dois pré-candidatos - o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, e o ex-governador Anthony Garotinho - e de presidentes dos diretórios estaduais, a Executiva decidiu criar três comissões para organizar a prévia, que acontecerá no dia 19 de março, e publicar, no Diário Oficial da União, a lista dos cerca de 21 mil eleitores. Partiu dos próprios candidatos a iniciativa de mobilizar a Executiva para organizar e dar legitimidade à prévia. Tanto Rigotto quanto Garotinho temem a ocorrência de fraudes e o questionamento judicial do processo eleitoral, o que pode inviabilizar a candidatura própria do partido. No passado, convenções nacionais do PMDB foram objeto de ações na Justiça. Ficou acertado ontem que até o dia 28 deste mês os diretórios regionais enviarão as listas de votantes à Executiva Nacional. Depois, o presidente nacional da legenda, deputado Michel Temer (SP), terá até o dia 6 de março para publicar a lista no Diário Oficial da União. "Queremos que essa prévia seja realizada sem qualquer tipo de questionamento. Haverá um local de votação em cada Estado, com as listas previamente definidas e acompanhamento de fiscais", disse Rigotto. Garotinho também comemorou a definição das regras: "A lista de votantes já foi de 16 mil, 18 mil, e agora supera 20 mil. Tem que haver uma lista definitiva e única. Agora, está tudo tranqüilo". A reunião de ontem foi boicotada pelo PMDB governista, que quer apoiar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dos diretórios estaduais, os únicos que não mandaram representantes para o encontro foram justamente os de Alagoas, Amapá e Pará, que são controlados por pemedebistas ligados ao governo - respectivamente, Renan Calheiros, José Sarney e Jader Barbalho. "Essa foi uma reunião sem as características tradicionais do PMDB. Não houve divisão. Todos defenderam a candidatura própria", atestou o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ). Apesar disso, o deputado disse que os governistas não serão "atropelados" pela Executiva. "Isso não é da tradição do PMDB." A Executiva criou três comissões (de organização, totalização e de recursos) para realizar a prévia e decidiu também dar pesos diferentes aos eleitores de cada diretório. Os votantes de Estados onde a bancada de deputados federais e senadores e o coeficiente eleitoral são maiores terão pesos diferentes. Assim, os votos dos eleitores do Rio Grande do Sul, de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais serão mais importantes do que os dos outros Estados. Preocupado com a desenvoltura de Garotinho na garimpagem de votos para sua candidatura, o governador Germano Rigotto decidiu pedir licença do cargo, entre os dias 26 de fevereiro e 20 de março, para também se dedicar à campanha da prévia. Com o apoio declarado dos governadores de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, e do Paraná, Roberto Requião, Rigotto acredita que tem maiores chances de vencer a disputa. Com a recuperação da popularidade do presidente Lula, Rigotto admite que seu maior desafio será "segurar" o PMDB em torno de seu nome entre março e junho, uma vez que o apoio do partido pode migrar para o governo. "Vou ter que mostrar para o partido que tenho fôlego para crescer. A briga PT-PSDB será muito dura e isso abre espaço para uma outra candidatura correr por fora", disse ele. Já Garotinho desdenhou ontem do resultado da pesquisa CNT-Sensus, em que Lula aparece como vitorioso no segundo turno contra qualquer candidato. Entusiasta da candidatura, Moreira Franco acredita que o ex-governador ganhará a prévia por ser mais forte que Rigotto. "A candidatura de Garotinho interessa aos candidatos a deputado estadual e federal, e também aos governadores. O PMDB tem chances de ganhar em 15 Estados", observou.