Título: Aliado de Serra é eleito líder do PSDB
Autor: Maria Lúcia Delgado e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2006, Política, p. A9

Eleições Disputa na bancada federal colocou em lados opostos serristas e alckmistas

Minutos depois de ter sido declarado o resultado da eleição para a liderança do PSDB na Câmara, o deputado Jutahy Júnior (BA), atendeu a um telefonema: "Ganhamos", disse eufórico. Do outro lado da linha, o secretário municipal de São Paulo e Subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, era informado do resultado da votação: 30 votos contra 23, dados ao deputado João Almeida (BA). A disputa na bancada da Câmara sinalizou o pior dilema que os tucanos enfrentam desde a criação do partido (em junho de 1988), que é optar pelo prefeito José Serra ou pelo governador Geraldo Alckmin para disputar a Presidência em outubro. "Eu sou eleitor do Serra. Quem votou em mim sabia disso", disse Jutahy. Apesar de os tucanos terem buscado o discurso da unidade após a eleição do líder, a vitória de Jutahy significou a consolidação da força de Serra, no partido, especialmente na bancada da Câmara, num momento em que vários políticos da legenda passam a considerar que seria muito arriscado ele deixar a prefeitura e encarar uma eleição dificílima, e ainda bastante incerta. "Eu sabia que a minha derrota aqui seria a derrota do Serra", definiu Jutahy aos correligionários. A eleição presidencial foi primordial na condução da escolha do líder - a derrota de Jutahy poderia parecer ao público externo que Serra passa a ser carta fora do baralho na sucessão -, mas não foi o único critério que pesou na decisão. Os deputados consideraram a experiência parlamentar e a capacidade de diálogo interno e com outras legendas. "A pergunta aqui era João Almeida ou Jutahy, e não Serra ou Alckmin", rebateu o candidato derrotado. Para João Almeida, a partir de agora a bancada segue totalmente unida para a sucessão. Mas o deputado faz um alerta: "A bancada quer entrar no processo decisório, quer atuar como protagonista e fixar uma data para a escolha". "A bancada vai atuar unida. Meu papel aqui é ouvir e levar a opinião de todos para a direção do partido", disse Jutahy. Em sondagem feita pelo Valor com todos os deputados da bancada do PSDB, o candidato preferido pela maioria é Geraldo Alckmin. Em avaliações reservadas, os tucanos admitem que a preferência da bancada não terá peso . O dilema não seria entre nomes, mas sobretudo de circunstâncias. Ex-líder, o deputado Custódio de Mattos (MG), que trabalhou intensamente pela vitória de Jutahy, disse que o PSDB precisa considerar duas variáveis na decisão: possibilidade eleitoral e risco futuro. A escolha é delicada sobretudo porque São Paulo, dizem, é o coração do PSDB. Qualquer decisão não pode indispor o partido com o eleitorado paulista. O risco de Serra disputar a Presidência obviamente é maior", disse. Apesar da vitória de Serra na escolha do novo líder na Câmara, a semana foi favorável a Alckmin. A pesquisa CNT/Sensus, que mostra Lula à frente do prefeito no em eventual segundo turno contribuiu para a otimismo do governador paulista, mas pesaram também outros fatores. Muito menos pelas pesquisas quantitativas e mais pelas qualitativas, Serra avalia que será fundamental, para enfrentar Lula, que considera um candidato forte, a unidade tucana em torno de seu nome - precisará não só de Alckmin, mas também de Tasso Jereissati, Aécio Neves e outros. Mas Alckmin ainda não deixou claro que aceitará a escolha dos cardeais tucanos e não disputará a convenção, caso seja preterido. Hoje, dirigentes tucanos se reúnem em São Paulo e devem avançar nas discussões sobre o candidato. Em São Paulo, Serra quebrou o silêncio que guardava sobre a conjuntura desde a viagem a Washington na semana passada. Criticou o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na comemoração do aniversário do PT, disse que errar é humano. "Errar é humano, agora impunidade é desumano. O que o presidente da República tem que fazer é atuar para coibir os abusos e punir culpados. Não ficar absolvendo. Quem absolve é Deus. O presidente da República tem que fazer cumprir a lei, investigar e combater as coisas e não filosofar inutilmente", disse o prefeito. Enquanto os tucanos vivem um dilema, os petistas trabalham para evitar o aumento da temperatura nas bancadas. Na Câmara, Henrique Fontana foi reconduzido líder, numa decisão inédita. O partido defende o rodízio de parlamentares para dar visibilidade a muitos na bancada. No Senado, Ideli Salvati volta para a liderança após já ter tido uma experiência no cargo em 2004. "Nosso grande objetivo é a vitória do presidente Lula", disse Fontana, abraçando Ideli no corredor do Senado. "O rodízio é uma regra importante para o PT, mas esse ano é excepcional. Não podemos experimentar. Teremos um acirramento enorme, e temos que nos preparar", disse Ideli. Ontem foram eleitos na Câmara os novos líderes do PP, Mário Negromonte (BA), e do PL, Luciano Castro (RR). Foram reconduzidos à liderança Sarney Filho (PV-MA) e Rodrigo Maia (PFL-RJ). O PMDB só fará a escolha na Câmara ao final de março. No PPS, assume a liderança o deputado Fernando Coruja (SC). Miro Teixeira voltou para o PDT e será o líder.(Com agências noticiosas)