Título: Ativistas vêem reflexo do referendo na decisão
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2006, Política, p. A10

Os ativistas de Direitos Humanos receberam a decisão do Judiciário paulista de anular a sentença do único condenado pelo massacre do Carandiru como uma inflexão à direita no país. "Reflete o conservadorismo da sociedade brasileira, confirmado no ano passado com a manutenção do comércio de armas e munição no referendo do desarmamento " disse o presidente do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves. O massacre do Carandiru ocorreu em 2 de outubro de 1992, menos de 24 horas antes da eleição municipal. O tumulto começou às 15 horas, envolvendo dois grupos de presidiários que cumpriam pena no Pavilhão 9 da antiga Casa de Detenção, implodida em 2002 e era a ala dos presos de alta periculosidade, com 2 mil condenados. A ação foi efetuada por 400 policiais, do Grupo de Ações Táticas Especiais e do Comando de choque. O saldo de 111 mortos e 193 feridos só foi divulgado no dia seguinte, pelo então secretário de Segurança Pública, Pedro Franco de Campos. O massacre conseguiu tirar o foco do noticiário da posse do vice Itamar Franco na Presidência da República e da passagem para o segundo turno de Paulo Maluf (PDS) e Eduardo Suplicy (PT) na eleição paulistana. Provocou a demissão do secretário de Segurança Pública Pedro Franco de Campos e encerrou a carreira do coordenador da operação, o coronel Ubiratan Guimarães na Polícia Militar. Mas a condenação popular do episódio jamais ficou clara. A carreira política do coronel Ubiratan demorou a engrenar, mas sempre teve o episódio usado como um chamariz de votos. Logo em 1994, Ubiratan candidatou-se a deputado estadual usando o número "111" para concorrer na eleição. Tornou-se suplente, mas obteve 26 mil votos. Depois das eleições municipais de 1996, conseguiu assumir o mandato, por dois anos. Em 1998, tornou-se novamente suplente. Em 2002, concorrendo pelo PPB malufista, recebeu 55 mil votos e pela primeira vez elegeu-se. Governador de São Paulo à época, Luiz Antônio Fleury Filho ficou quatro anos sem mandato e elegeu-se deputado pelo PTB em 1998, sendo reconduzido no último pleito. Faz parte da cúpula do partido e foi um dos coordenadores no ano passado da campanha pelo voto "não" no referendo pela proibição da venda de armas e munições. Franco de Campos retornou a sua carreira no Ministério Público de São Paulo. Está hoje no Órgão Especial, responsável pelo controle interno da instituição. Em suas declarações, o parlamentar sempre defendeu a correção da ação que resultou no maior número de mortos sob custódia do Estado na história recente do país." Eu cumpri com o meu dever. Sempre agi no cumprimento do dever", reafirma a todos que o questionam se ele comandaria novamente a invasão que resultou na morte dos detentos. Em sua carreira política, faz parte da chamada "bancada da bala". Em sua página na internet, defende a diminuição da maioridade penal e o porte de armas. Em lugar de destaque, a página mostra a foto com tarja de uma criança com os dizeres: "Este monstro tinha apenas 12 anos. Depois de uma temporada na Febem, voltará aos 18 anos com a ficha limpa às ruas. Criminoso é criminoso, não importa a idade e tem que pagar pelo o que fez".