Título: Agroindústria aumenta participação no exterior
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2006, Especial, p. A14

A agroindústria polonesa começa a ganhar mercados externos. Em Lowicz, a 80 km de Varsóvia, a empresa Agros Nova utilizava só produtos da região como framboesa, morango, maçã e tomate para produzir sucos, marmeladas e molhos. Desde o ano passado, passou a importar da América Latina toneladas de banana, abacaxi, maracujá, mamão papaia. Com isso, faz o valor agregado, empacota e exporta para a Europa, EUA e até Austrália. "Ganhamos 80% quando compramos a banana e damos valor agregado", diz entusiasmada a porta-voz da empresa, Joanna Bancerowska. As exportações representam só 8% do faturamento de quase 200 milhões de euros. Mas aumentam 37% ao ano. "Vocês exportam isso também do Brasil?", indaga ela, com um sorriso radioso mostrando marmeladas de maracujá e de papaia destinadas aos EUA. Com os 27 bilhões de euros para a agricultura, o governo polonês quer estimular a agroindústria e a agricultura biológica. A agricultura do país foi uma das poucas no antigo bloco soviético que conseguiu com sucesso evitar a coletivização imposta pelos comunistas. O governo só controlava 18% das terras. O tamanho médio das propriedades é de oito hectares. Mas a concentração de terras aumenta. O vice-ministro da Agricultura, Andrej Kowalski, confirma "embaraçado e com tristeza" que aumenta a resistência contra a aquisição de terras baratas polonesas por estrangeiros, atraídos por preço de US$ 400 o hectare. Hoje muita gente quer ser agricultor na Polônia. Nada menos de 1,4 milhão de pessoas se candidataram para receber subvenções agrícolas européias. Só metade pode esperar receber algo, segundo o vice-ministro. Ele acha que dentro de alguns anos sobrará uma minoria de agricultores profissionais. Zwyk Ireneusz, presidente de uma cooperativa de plantadores de tomates, teme não estar entre eles. Diz que recebe 33,5 euros de subsídio europeu por tonelada de tomate, mais 50 euros por hectare desvinculado da produção. Ainda assim, sua renda teria caído 30%. No fim do mês, embolsa 220 euros. De um lado, houve a abolição de tarifas de importação que protegiam os poloneses da concorrência em seu mercado. De outro, a UE exige uma agricultura mais ecológica, o que aumenta custos para produtores. Para o Ministério da Agricultura, os produtores de açúcar serão os ganhadores da adesão a UE. Os perdedores serão os de cereais e de frutas. No caso do açúcar, os subsídios voltam para os cofres de grandes empresas francesas e alemães que se instalaram no país, no meio da reestruturação que até agora fechou 68 usinas e deve fechar mais quarto por ano. A Polônia tem cota de produção de 1,5 milhão de toneladas de açúcar, comparado a produção de 2 milhões/t. Nesse cenário, o líder populista Andrzej Lepper considera a agricultura brasileira um "perigo não só para a Polônia ou Europa, mas para o mundo inteiro", principalmente com as condições de produção de açúcar e carnes. (AM)